sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Fascista, eu? ah, me poupe!



Postei recentemente os textos deste blog sobre a questão israelo-palestina em uma comunidade virtual de debates. Lá, um debatedor fez estas breves considerações a nosso respeito:

"a idéia "...Por ser pentecostal convicto sou terminantemente contrário ao direito do povo palestino..." nao cola,afinal já conhei muito pentecostal que nao era facista (grifo nosso)."

Vejamos como a linguagem normativa nos apresenta a definição de "Fascismo".

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda: sistema político nacionalista, imperialista, antiliberal e antidemocrático, liderado por Benito Mussolini (1883-1945), na Itália, e que tinha como emblema o feixe (fascio) de varas dos antigos lictores romanos, oficiais que, na antiga Roma, acompanhavam os magistrados com um molho de varas e uma machadinha para as execuções da justiça.

Segundo a Filosofia: O Fascismo se caracteriza justamente pelo combate às liberdades individuais e pela consagração do Estado como ente supremo da civilização. O próprio Mussolini consagrou a expressão-síntese do Fascismo: "Tudo pelo Estado; Nada contra o Estado, e nada fora do Estado".

Segundo a Verborragia do Militonto de Esquerda: "Fascista" virou um xingamento genérico com que o Esquerdista execra todos os que pensam diferente dele. Basta não abraçar algum dos mitos do "politicamente correto", para se tornar um sério candidato ao rótulo de fascista por parte. Outros sinônimos que eles adoram: reacionário, conservador, extrema-direita-que-urra-e-baba, e etc.

Como se vê, o critério do senhor debatedor pra me definir como "fascista" é o terceiro. Nada, porém, mais falso nem mais infiel em relação à História. Fascista, reacionário, é quem abraça a "defesa" do mito Palestino por não ter coragem de defender abertamente a extinção, pura e simples, do Estado de Israel. Defender a criação de mais uma ditadura pra subjugar árabes no Oriente Médio é que é o verdadeiro comportamento fascista.

Estes são os fatos. O resto são tertúlias flácidas para dormitar bovinos (em bom português: conversa mole pra boi dormir).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ainda a Questão Palestina, e os mitos da ultra-esquerda


Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chavez: emblema da união de ocasião entre dois totalitarismos: o fundamentalismo islâmico e a ultra-esquerda latino-americana. A Questão Palestina, naturalmente, depende destes apoios...

Todos os palestino-simpatizantes (ou seja, simpatizantes do terrorismo do Hezzbollah, Fatah e que tais), quando confrontados com argumentos racionais a favor de Israel, sempre tentam rotular a questão como "problema religioso", "discurso fundamentalista" e outras ilusões.

Foi justamente por causa disto que tive o cuidado de deixar de lado, na minha postagem anterior, as justificativas meramente religiosas, para apresentar argumentos à luz da História, da Política, da Sociologia e da própria Lógica. Mas enfim, há quem prefira ignorar a própria realidade, se ela não estiver de acordo com os mitos ideológicos que algumas pessoas assumem...

Há partidos no Brasil que pregam, abertamente, o fim do Estado de Israel. Justamente partidos de ultra-esquerda, que devem todo seu ideário ao judeu Karl Marx. Gente que não conhece nem mesmo a história do pensamento que pensam abraçar, pois antes de 1948, a luta pela existência do Estado de Israel era uma das bandeiras da esquerda. Hoje, claro, defender palestino é muito mais popular. Essa gente sem escrúpulos da ultra-esquerda brasileira e internacional, está sempre atrás do auto-intitulado "oprimido" da vez...

E isso que a esquerda sempre se orgulhou de defender a "auto-determinação dos povos". Hoje em dia, Israel é uma exceção nesta regra, pois nenhum partido de esquerda defende abertamente o direito de Israel à existência. Antes dos escândalos do "mensalão", o atual governo patrocinou uma pantomima diplomática, chamada "Cúpula Árabe e Sul Americana", algo assim. Sob o falso pretexto de acordos comerciais, reuniu ditadores árabes e norte-africanos para criticar Israel. Logo o Brasil, que na era FHC, chegou a ser oficialmente convidado para arbitrar o conflito...lastimável.

Porque sou contra a criação de um Estado Palestino


Tenho descendência sírio-libanesa por parte de bisavô paterno, e minha família, quase que naturalmente, se inclina para uma postura contrária à Israel neste conflito. A tendência esquerdista da maioria dos meus familiares apenas agrava ainda mais esta posição. No entanto, como cristão pentecostal convicto, dou minha posição de maneira clara: sou terminantemente contra a criação de um Estado Palestino. E isso por diversas razões, que aqui passo a elencar:

1 - O "Povo Palestino" é um mito geopolítico
Em outras palavras, o "povo" palestino não existe. O que existe é o povo árabe, que já tem territórios próprios em 90% do Oriente Médio. A Bíblia prova que . O nome "palestinos" deriva de "filisteus". Estes, porém, vieram originalmente de Creta (Caftor), ocuparam partes da região e exterminaram seus habitantes. Em Deuteronômio 2.23 lemos: "Também os caftorins que saíram de Caftor destruíram os aveus, que habitavam em vilas até Gaza, e habitaram no lugar deles" (veja também Js 13.3; Gn 10.14; Jr 47.4; Am 9.7). Os filisteus, por serem oriundos de Creta, nem eram árabes. A palavra "Palestina" é simplesmente uma designação genérica para a terra de Israel, criada pelo imperador romano Adriano.

2 – Os próprios árabes sabem que o “povo” Palestino é uma mentira
Veja o que Zuheir Mohsen, um dos mais importantes representantes da OLP, admitiu em 1977:
“Não existe um povo palestino. A criação de um Estado palestino é um meio para a continuação de nossa luta contra Israel e em prol da unidade árabe... Mas na realidade não existe diferença entre jordanianos e palestinos, sírios e libaneses. Todos nós fazemos parte do povo árabe. Falamos da existência de uma identidade palestina unicamente por razões políticas e estratégicas, pois é do interesse nacional dos árabes contrapor a existência dos palestinos ao sionismo. Por razões táticas a Jordânia, que é um país com território definido, não pode reivindicar Haifa ou Yaffa. Mas como palestino eu posso exigir Haifa, Yaffa, Beersheva e Jerusalém. Entretanto, no momento em que nossa soberania sobre toda a Palestina estiver consolidada, não devemos retardar por nenhum momento a unificação dela com a Jordânia (Fonte: Israel oder Palästina?, Rudolf Pfisterer, Brockhaus, p. 141). "
Na verdade, o nome "palestinos" só passou a ser usado a partir de 1964, quando o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação de uma Organização Para a Libertação da Palestina (OLP). O semanário egípcio El Mussawar escreveu a respeito:
“A criação de uma nação palestina é o resultado de um planejamento progressivo, pois o mundo não admitiria uma guerra de cem milhões de árabes contra uma pequena nação israelense. (Fonte: Israel oder Palästina?, Rudolf Pfisterer, Brockhaus, p. 140)"

3 – Israel é a única nação democrática da região
O único país do Oriente Médio que se guia pelos parâmetros democráticos é Israel. Os árabes que possuem cidadania israelense possuem mais garantias e direitos civis do que os árabes que vivem sob o governo dos territórios administrados pela Autoridade Palestina, uma estrovenga jurídica que não passa de uma mega-Ong fraudulenta. Durante um certo tempo após a morte de Arafat, bem que a AP tentou um simulacro de democracia, com eleições e tudo, para agradar seus apoiadores da União Européia. No entanto, não demorou muito pra máscara cair. Aliás, Israel é o único país do mundo que repassa fundos para uma organização (a Autoridade Palestina) que luta contra sua própria existência.

4 – O povo árabe não precisa de mais uma ditadura
Existe um mito sociopolítico, criado pelo estrategista e sociólogo norte-americano Samuel Huntington, que afirma que a “civilização árabe” não se coaduna com os valores democráticos. Engano. A prosperidade de países como o califado de Omã, os Emirados Árabes e o Iêmen, dão-se justamente pela adoção de valores como o livre comércio, a liberdade de imprensa e outras tradições democráticas, ainda que dentro de regimes monárquicos. A Espanha e a Inglaterra também são monarquias, e ninguém em sã consciência afirma que são países antidemocráticos por causa disso.
O grande problema do povo árabe não está em Israel, mas sim em seus próprios países, na sua maioria administrados por uma casta social corrupta, despótica e sem princípios. Manifestações populares ocorridas no Líbano anos atrás provam que é possível o povo árabe governar seu próprio destino sem depender de ditadores populistas “salvadores da pátria”. A Autoridade Palestina, como já vimos, será apenas mais uma ditadura sobre o povo árabe. E ele, decididamente, não precisa disso.;

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

João Batista e Jesus: um Tributo...


João Batista, em gravura medieval da Igreja Copta Ortodoxa

Uma das passagens mais emocionantes dos Evangelhos (e falo aqui a partir de uma perspectiva bastante pessoal) é o trecho de Mateus 11, em que discípulos enviados por João Batista questionam Jesus a respeito de sua messianidade. Após respondê-los que “os cegos vêem, os coxos andam, os paralíticos são levantados e aos pobres é anunciado o Evangelho”, Jesus inicia um discurso profundamente elogioso, emocionado mesmo, sobre João Batista. Para quem lê a Bíblia com os olhos de um cristão, trata-se de um fato nada desprezível ser digno de menção pelo próprio Filho de Deus.
Esta pequenina passagem tem lições imensas para toda a nossa vida. A primeira, nos é dada pelo próprio João Batista. Alguns leitores apressados (como eu fui, no passado), diante desta passagem se questionam: por que João Batista, meses depois de batizar Jesus e proclamar que ele era o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, mandou lhe perguntarem se ele era mesmo o Messias que haveria de vir? Teria tido algum momento de dúvida, pelo fato de estar preso?
A verdade, entretanto, apresenta um prisma muito mais fascinante. Depois de batizar Jesus, João Batista continuou arrebanhando discípulos e pregando o arrependimento. Muitos deles apenas tinham ouvido falar de Jesus, e tinham muitas dúvidas. João Batista sabia que, para estes, não bastava apenas argumentar ou fazer uma defesa apologética. Por isso João mandou que fossem até Jesus, pois estes precisavam ter o seu próprio contato pessoal, a sua própria experiência com o Mestre Nazareno.
Mais do que crer em Deus, o que precisamos verdadeiramente é ter um encontro pessoal, uma experiência com Ele. Muitos que afirmam crer em Deus crêem apenas por uma convenção social, mas não têm, de fato, uma experiência pessoal com Ele. João Batista compreende esta necessidade, e num gesto de grandeza de quem não tem receios autoritários quanto a seus discípulos, manda-os até Jesus.
A resposta do Mestre, como sempre, não poderia decepcionar. Ao invés de se indignar com a pergunta impertinente dos discípulos de Batista (que tinham tanto receio dela que usaram a autoridade do nome de seu mestre para perguntar), e começar uma longa peroração sobre as profecias das escrituras, sua linhagem davídica e por aí afora, Jesus simplesmente diz: “Dizei a João o que tendes visto”. Os resultados da ação de Jesus, com o poder divino do Espírito Santo sobre a vida de diversas pessoas, falava mais alto que qualquer discurso. E isto serve para nosso exemplo, nossa vida cristã. Como diz o meu professor da faculdade de Teologia, pastor Dalmo Dourado: “O que és, fala tão alto que não ouço o que tu dizes”.
Logo depois, diante dos discípulos exalta a grandeza de João Batista, o precursor de seu ministério. Fala com carinho sobre o primo e preceptor, com a grandeza de quem não veio para desconstruir o passado, mas para ajustá-lo à perspectiva do presente. Fez isso de maneira absolutamente coerente com o que disse no Sermão do Monte: “Não vim para revogar a lei, mas para cumprir”.
Por isso, sempre desconfio de todo tipo de “movimento salvacionista” que surge criticando tudo o que existiu antes e se apresentando, sem modéstia, como “os únicos portadores da verdade”. Este tipo de comportamento deve ser sempre vigiado de perto, seja no campo da fé, da política, das ciências... qualquer um que chega com aquele discurso de “nunca antes na história deste país...” Cuidado. Se for na igreja, é heresia. Se for nas artes ou nas ciências, é embuste; e se for na política, é autoritarismo puro mesmo. Jesus, como provam estas passagens do Novo Testamento, não desconheceu os que deram do seu suor antes dele. Quem somos nós, portanto, pra agir desta forma?

sábado, 1 de dezembro de 2007

Oh! Maranatha!


No silêncio, eu elevo o pensamento
Cai a noite, escuto a voz do coração
Já não lembro mais de qualquer sofrimento
E a quietude se transforma em oração

Seu Poder me cerca por trás e por diante
Fecho os olhos, posso até te ouvir falar
Estremeço por inteiro neste instante
E meu coração se abre prá louvar

Oh! Maranatha! Vem, meu Senhor!
Tu és o Deus da Vida, meu Resgatador!
Oh! Maranatha! Vem, meu Jesus!
E preenche o meu ser com tua Luz!


Se eu me escondo entre vales e montanhas
Mesmo ali o teu Poder vai me alcançar
E se eu voar nas asas da alvorada
Ainda assim a tua mão me susterá

Infinita é tua Misericórdia
Me deixaste contemplar a tua Luz
Eu não era nada e agora, em Ti, sou tudo
Redimido pelo sangue de Jesus

terça-feira, 27 de novembro de 2007

E a Praça é dos Livros...


Este texto foi proferido, como discurso, na Sessão Especial da Câmara de Vereadores, em 22 de Novembro, pela realização da I Feira Municipal do Livro de São Gabriel, de 23 a 25 de Novembro, numa parceria entre Associação Cultural Alcides Maya, Associação de Italianos, Alemães e Outras Etnias, Instituto Cultural e Educacional Harmonia Gabrielense, Universidade da Região da Campanha, Universidade Federal do Pampa e Secretaria Municipal de Educação. Participei da organização como presidente da ACAM, foi um momento extraordinário.

Corria o ano de 1866, se não falha a memória ou a boa-fé dos historiadores. A efervescência política da época não ficava nada a dever aos tempos atuais, quando a comunidade intelectual discutia, de forma acalorada, rumos novos para o Brasil, É neste cenário da movimentada Salvador que um grupo acanhado de estudantes tenta realizar uma manifestação pró-republicana, em plena praça central. A ação da polícia, tentando impedir o protesto, acaba por conferir à turba uma importância maior do que realmente tinha. É neste cenário que um jovem de vasta cabeleira negra ocupa o centro da praça e começa a declamar: “A Praça, a praça é do povo, como o céu é do condor, é antro onde a liberdade cria águias em seu calor”. O jovem poeta em questão é Castro Alves, e esta bela dedicação de amor que outorgou para sempre o domínio do povo sobre as praças, só chegou a nossos dias graças à existência dos livros.
E graças aos livros, mais uma vez, a praça pertence ao povo. Graças a uma mobilização modelar de forças vivas da comunidade cultural gabrielense, São Gabriel está ganhando um grandioso presente neste final de ano: a 1ª Feira Municipal do Livro de São Gabriel, evento que nasceu de uma forma que, certamente, é exemplo para outras iniciativas, pois veio à luz como resultado da união de esforços de entidades culturais que tiveram a grandeza de compreender que, separadas, não poderiam produzir o que estão realizando juntas... uma verdadeira celebração de amor ao poder criativo das palavras, à sua capacidade de traduzir vida, seja em prosa, seja em verso.
Trata-se de um fato nada desprezível a realização de uma festa que pretende celebrar a palavra em toda sua força, especialmente em tempos como os que estamos vivendo. Vivemos dias em que a palavra é desacreditada, não é cumprida, é solenemente desprezada. Nas profissões que fazem uso das letras, tornam-se prestigiados os que usam a palavra não para comunicar ou revelar, mas sim para ocultar. O não-dizer, o não-revelar, tornou-se quase uma regra nas relações sociais de hoje, que economizam tanto palavras quanto sentimentos. Na era da comunicação digital, faz-se de tudo um pouco, menos se comunicar. Completamente o oposto do que ensina uma obra que, não por acaso, mereceu ser apelidada de “Livro dos Livros”, onde nos é narrado que o próprio Deus, no ato de criar, fez uso da Palavra, dizendo “Haja luz”. O seu próprio Filho, segundo estas mesmas Escrituras, apresentava-se como “O Verbo Encarnado”. Ou seja, a Palavra não apenas descreve a realidade, mas cria e recria o mundo à nossa volta.
É para resgatar um pouco desta dimensão comunicativa do nosso dia-a-dia que surge esta Feira do Livro, disposta a discutir “Nossos Horizontes Literários”, como propõe o mote de sua primeira edição. Por isso, nada mais justo que seu patrono fosse um poeta com uma voz social bastante clara, que faz ouvir seu canto poético nas praças de todo o Rio Grande, a exemplo do Castro Alves que entronizou a poesia como soberana nas praças do passado: o nosso gabrielense Rossyr Berny, professor, escritor, editor e tradutor de renome consolidado, cuja reputação o precede e atrai para São Gabriel, nos dias da Feira, um sem-número de poetas e outros fazedores de literatura.
A praça é do povo, como o céu é do condor. E de 23 a 25 de novembro, o povo e sua literatura são parte indissociável da nossa Praça Fernando Abbott, na 1ª Feira Municipal do Livro. Que nossos melhores sentimentos nos conduzam!

sábado, 17 de novembro de 2007

"¿Por qué no te callas?"


ao centro, a ira real. Á direita, de costas, um coronel assustado

Eu sei, eu sei. Você já deve estar saturado de comentários a respeito da carraspana real passada pelo rei Juan Carlos no presidente venezuelano Hugo Chávez, durante a conferência ibero-americana em Santiago do Chile. Todos os jornais nestas últimas semanas trouxeram páginas e páginas a respeito do assunto, a televisão não se cansou de repetir a cena, e até mesmo o xingamento de Sua Majestade foi transformado em ringtone, o mais popular toque de celular da Espanha no momento. Todo o planeta viu o vexame do coronel venezuelano, que quis transformar um dos mais importantes encontros diplomáticos do mundo em um palco privilegiado para suas fanfarronices, como já tinha feito na ONU e em outros fóruns internacionais.
Como vocês bem sabem, tudo começou por causa de um discurso em que Chávez, como é de seu costume, despejou sua verborragia contra uma figura ausente: o já ex-primeiro ministro José Maria Aznar, a quem chamou de “fascista” por seu apoio à investida norte-americana na Guerra do Iraque. Foi quando o primeiro-ministro Zapatero exigiu que o presidente venezuelano demonstrasse mais respeito, com um argumento contundente: “Aznar, naquela ocasião, foi eleito pelo povo espanhol, e representava a todos os espanhóis, e por isso exigimos que seja tratado com respeito”. Visivelmente aturdido com a reprimenda, Chávez continuou a falar e falar e falar, quando o rei Juan Carlos esbravejou: “¿Por qué no te callas?”.
Não, não é a ira real de Juan Carlos, normalmente contido em sua posição de Chefe de Estado, que realmente impressiona, embora sua reação tenha sido a pedra de toque fundamental da cobertura da mídia a respeito do evento. O que realmente chama a atenção neste episódio é a diferença existente entre dois contendores involuntários desta refrega: o primeiro-ministro espanhol, Zapatero, e o fanfarrão chauvinista da Venezuela. Como vocês sabem, Zapatero também é de esquerda, ligado ao tradicionalíssimo PSOE (Partido Socialista Obrero Español), uma das siglas de maior influência na Internacional Socialista. Comunga, portanto, de muitos equívocos doutrinários do chamado comandante-em-chefe do bolivarianismo. No entanto, diante da fúria verbal de Chávez contra Aznar, foi capaz de demonstrar de maneira prática seu compromisso democrático. Chávez, certamente, esperava contar com o silêncio ou a conivência de Zapatero enquanto achincalhava a reputação de Aznar, que havia sido o principal adversário ideológico e político do atual premier espanhol durante as eleições de 2004. Na sua lógica distorcida, talvez Chavez pensasse até estar fazendo um favor ao colega espanhol, já que chamava de "fascista" a um duro oponente de Zapatero. Entretanto, Zapatero teve a grandeza moral de não permitir que um ex-representante de seu povo, ainda que antigo adversário seu, fosse achincalhado por um bufão das Américas em uma reunião intercontinental.
Esta é a distância que distingue Zapatero, um raro caso de esquerdista comprometido com a democracia, de Chávez e outros bufões da cena ibero-americana. E se o exemplo fosse outro? Se Chávez, ao invés de criticar Aznar, tivesse criticado, por exemplo, Fernando Henrique? Será que Lula pediria mais respeito a um ex-presidente brasileiro ou assistiria à agressão calado, e talvez até mesmo agradecido, com um indisfarçável sorrisinho de sarcasmo no rosto?
Esta é a distância que separa os estadistas dos usurpadores da consciência de suas Nações, os verdadeiros democratas dos chauvinistas ditatoriais, dos aproveitadores de plantão que apenas ocupam um período na História, mas nunca farão História verdadeiramente. A História sempre está do lado de quem sabe ouvir a voz do seu tempo e assumir a postura certa, como Zapatero. Ou, quem sabe, cunhar a frase certa, como o rei Juan Carlos.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O D-us polifacético do Judaísmo


Um dos temas que tem prevalecido ao longo dos últimos dois mil anos como eterno ponto de controvérsia entre judeus e cristãos diz respeito à repulsa dos judeus diante da Doutrina da Trindade, a explicação da teologia cristã para conjugar a Unicidade de Deus com a divindade de Jesus Cristo. O judeu devoto, tanto do passado como do presente, que todos os dias treme ao recitar “Shemá Yisrael, Ad-nai Elohenu,, Ad-nai Ehad” (Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é Um), parece apresentar profunda dificuldade em compreender um Deus que se manifeste de múltiplas formas.
Tal espanto seria legítimo se o próprio Judaísmo não tivesse, ao longo de sua história, através de seus sábios, produzido tantas e tão ricas especulações sobre a natureza de Deus, que coincidem profundamente com o conceito trinitário cristão. É evidente que um judeu jamais admitiria enxergar esse assunto desta maneira, principalmente porque todas as doutrinas rabínicas desenvolvidas na Idade Média sempre foram, de alguma forma, reativas ao Cristianismo. Por mais que doa admitir, um judeu devoto convive sempre com o paradoxo de professar uma fé antiga, mas que na verdade, teve seus parâmetros atuais estabelecidos depois do Cristianismo. O verdadeiro fundador do Judaísmo que hoje conhecemos não é Moisés, mas sim o Rabi Akiva, como bem nos lembra esta reflexão:

“Quando os rabinos da Antiguidade reescreveram à sua imagem e semelhança toda a Escritura e a história de Israel, descartando períodos inteiros como se jamais houvessem existido, ignorando trechos extensos de antigos escritos judaicos, inventando novos livros para o cânone do judaísmo, fizeram mesma coisa que condenavam em Jesus: modificaram o que tinham recebido, à luz do que se propunham a oferecer” (Jacob Neusner, in Jews and Christians: The Myth of a Common Tradition, página 102).

Tendo por base o fato de que o Judaísmo ortodoxo dos dias atuais é uma religião inteiramente reativa, e neste sentido, dependente, do cristianismo, cabe analisar desapaixonadamente algumas das mais conhecidas refutações judaicas ao cristianismo, tendo por base algumas de suas mais caras reflexões sobre a natureza de D-us e do Messias.

1 – O Messias é um ser humano comum, sendo inaceitável a doutrina do Messias como co-existente com Deus:

Bem, o Judaísmo convive com o dilema de um de seus rabinos, rejeitado pela tradição vencedora, ter afirmado: “A alma do Messias foi criada pela vontade de Deus. Essa alma existia antes da criação do mundo”. Trata-se de Jacó Frank, no livro “Tratado sobre os Dragões”.

2 – O Espírito Santo é uma invenção teológica.
Bem, o fato é que o Espírito Santo cristão pode encontrar seu paralelo judaico na figura da Shekhinah. O livro “The Sages (Os Sábios)”, de Ephraim Urbach, traz uma análise esclarecedora. Para os grandes rabinos do passado, segundo Urbach, Shekhinah não tinha existência própria, sendo parte de D-us, ou seja, a presença de D-us no mundo (exatamente como o Espírito Santo cristão). Mas essa visão foi sendo modificada no século XI, quando surgiram referencias a Shekhinah como tendo personalidade própria (Exatamente como o Espírito Santo). Na verdade, o Judaísmo vai muito mais longe que os cristãos ao atribuir à Shekhinah um caráter feminino. Na prática, Shekhinah tornou-se a “deusa” do Judaísmo, algo que jamais seria encarado com naturalidade pela ortodoxia cristã com relação ao Espírito Santo (muito embora alguns moderninhos queiram dar algum significado para o fato de Ruach há Kodesh, o nome do Espírito Santo em hebraico, ser um substantivo feminino). Para os cristãos, Deus não pode ser considerado “masculino” ou “feminino”, pois tais designações pertencem ao universo da Criação, não do Criador.

3 – Conceituar Deus como possuidor de três “personas” é Avodá Zará (pecado de idolatria)
Alguns judeus convivem com o paradoxo de condenar a Doutrina da Trindade cristã enquanto preferem ignorar o fato de que no chamado “Livro do Esplendor” (Zohar), veremos várias e várias especulações a respeito de Deus, cujo caráter é analisado com base naquilo que o livro chama de “divisão tripartite da alma”: nephesh, ruach e neshamah., justamente três “personas”, “manifestações” do caráter de D-us, a exemplo do que preconizara Tertuliano em seu desenvolvimento da Doutrina da Trindade.

Este fato deve nos atentar para aquilo que os sábios rabinos signatários da declaração “Dabru Emet” já manifestaram, a despeito da contrariedade da maioria dos judeus ortodoxos da atualidade: cristãos e judeus adoram o Mesmo Deus, e apesar de vivenciaram tradições separadas pela cultura e pela história, em ambas as tradições é possível encontrar fragmentos coincidentes da mesma Verdade, que aponta para um Deus multiforme, Uno, e também para a pessoa divina de Jesus.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Paulo e o Judaísmo: uma relação ambígua




Rotineiramente, o judaísmo ortodoxo tem uma relação tensa com um dos principais pregadores do Cristianismo, em certos casos mais tensa até mesmo do que com o próprio Jesus. Trata-se do apóstolo Paulo, cujas cartas são as primeiras referências doutrinárias e teológicas nascidas no cristianismo primitivo.
A visão ortodoxa tradicional costuma apresentar Paulo como um judeu helenizado, que teria promovido a fusão do cristianismo nascido em Jerusalém com elementos do paganismo greco-romano, a cujo ambiente cultural estaria habituado. Mesmo o caráter judaico de Paulo é questionado, uma vez que seu natalício é situado em Tarso.
No entanto, um exame aprofundado das cartas paulinas fará perceber uma profunda reverência ao judaísmo e aos judeus, em que pese as interpretações distorcidas da atualidade a seu respeito. Extraímos para observação, apenas alguns excertos onde este fato surge de forma auto-evidente.

"Não te glories contra os ramos; porém, se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti" (Romanos 11.18). Aqui se está falando do cristianismo como um ramo cuja raiz provém dos judeus.

DIGO, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: "Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma?" Mas que lhe diz a resposta divina?"Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal".

Há diversos outros contextos em que fala com orgulho da sua linhagem e de seu aprendizado como parush, nos quais via um zelo santificante pela Palavra de Deus.

Há, portanto, uma falsa dicotomia entre o que alguns chamam de "cristianismo paulino" e "cristianismo de Tiago", este ligado a Jerusalém. Em ambos os casos, Jerusalém é, como disse Paulo, a "raiz".

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sobre padres, rabinos, pastores e escândalos: a parcialidade da mídia


Eu sei que provavelmente serei criticado por trazer um assunto que, à primeira vista, não parece ter relação factual com o objetivo de nossa comunidade. Entretanto, creio que este tema traz à luz um debate que interessa a cristãos e judeus em qualque tempo, lugar e época: o tratamento da mídia e os interesses político-econômicos que tangenciam as abordagens sobre situações que envolvam religiosos.

1 - O noticiário comentou, com certo constrangimento, o envolvimento do Padre Júlio Lancelloti em uma suposta chantagem que estaria sofrendo de um jovem que pretendia acusá-lo por abuso sexual. Interessante observar que o fato de o padre Júlio ter cedido por diversos anos à chantagem com presentes bastante caros, parece não chamar a atenção da mídia. Nunca falta um comentarista de jornal para lembrar que ele, pelo seu "belo"(!) trabalho à frente da "Pastoral do Povo de Rua (!!!)" merece um grande respeito.

Há algum tempo atrás, o rabino Henry Sobel foi preso por furtar gravatas em uma loja nos Estados Unidos. Tendo alegado confusão mental, a imprensa rapidamente tratou de tirar-lhe do foco. Ah, não faltaram reportagens exaltando a robusta biografia social do líder da Confederação Israelita Paulista.

Há alguns anos, missionários da JOCUM (Jovens com Uma Missão, organização missionária evangélica) foram massacrados pela mídia por trazer para a cidade um menino que seria sacrificado em um ritual indígena. Sociólogos caíram de pau em cima do "vergonhoso proselitismo evangélico" e defenderam o "relativismo cultural". Saiu até no Fantástico. Um detalhe: nunca os missionários foram procurados pra dar sua versão.

Os três fatos tem em comum apenas a coincidência de envolver religiosos em escândalos, e parou por aí. Porque o tratamento da mídia foi tão condescendente com os dois primeiros casos e tão severa com o último, embora mais antigo, incidente?

Respondo: Porque interessa aos jornalistas que cobriram seus casos, proteger ao padre Júlio Lancelotti e ao rabino.

Não porque sejam pró-católicos ou pró-judeus...muito pelo contrário.

Ambos estão sendo preservados por jornalistas que simpatizam com seus posicionamentos políticos de esquerda.

O Padre Lancelotti é um conhecido agitador, que criou uma certa "Pastoral do Povo da Rua" e recentemente condenava a prefeitura de São Paulo (o prefeito era José Serra) por construir rampas abaixo dos túneis dos metrôs, impedindo a permanência de mendigos. Lancelloti ficou muito irritado com a sugestão de que os mendigos devem ser atendidos nos albergues, e não permanecer nas ruas. O Padre, que literalmente privatizou os mendigos para sua pantomima política, conseguiu convencer parte da mídia de que tirar dos mendigos o "direito" de ficar nas ruas e "obrigá-los" a ser bem atendidos nos albergues era desumano.

Porque este cidadão, não faz cristianismo nem catolicismo: sua verdadeira religião é o petismo.
E o rabino também vive sendo incensado por certa patrulha da esquerda.

E, antes que se diga...é evidente que não há comparação entre pedofilia e furto de gravatas. Se quer saber, acho mesmo que o rabino tem razão. O que incomoda, profundamente, é que, se no lugar dele, fosse um pastor que tivesse feito isso, jamais lhe teria sido dada a presunção de inocência.

Estou errado em pensar assim? Ou estou vendo coisas, e os profissionais de Jornalismo, fabricados em universidades filomarxistas, fazem uma mídia justa?

Mitos do anticristianismo judaico: a Verdade Inconveniente

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Que me perdoe o senhor Al Gore e os direitos autorais de seu filminho filo-esquerdista de ficção sobre o aquecimento global, mas não achei título que fosse mais adequado para este texto, depois de meses afastado do blog.

A argumentação da apologética anticristã judaica em qualquer espaço de debate teológico, sempre se dá em torno de alguns chavões que, por desconhecimento, acabam prevalecendo como verdades incontestáveis. Vejamos até onde existe consistência nas imputações da religião que adora chamar de "farsa" alguns dos mais caros pressupostos da Teologia cristã.

1 - O Judaísmo contemporâneo tem mais autoridade do que o Cristianismo porque tem uma relação de continuidade com o Judaísmo do tempo de Jesus.
Todo judeu adora pensar assim, mas infelizmente esta afirmação pertence mais ao terreno do mito do que do fato. Os primeiros textos que dão embasamento ao Judaísmo normativo atual, são muito posteriores às cartas de Paulo, os mais antigos textos do Novo Testamento. Numa só palavra, podemos dizer claramente que Paulo precede a Akiva.

2 - Temos mais autoridade para falar da Tanak do que os cristãos, pois nossas interpretações são historicamente corretas.
A antiguidade dos textos paulinos desconstrói toda a pretensa legitimidade das interpretações talmúdicas sobre a Tanak, sempre consideradas mais autorizadas do que as interpretações cristãs provenientes do Novo Testamento. Na verdade, isto demonstra que o Judaísmo atual não tem continuidade em relação ao judaísmo entre a dinastia dos Macabeus e a destruição do Segundo Templo.

3 - O Ensino da Trindade é uma aberração sem base judaica.
Todo judeu ortodoxo evita mencionar a conhecida história do rabino Elisha ben Abuyah, que foi arrebatado aos céus e teve a visão do trono de Deus e, a seu lado, uma segunda pessoa, à sua direita. A tradição cabalística diz que este seria Enoch, transformado no anjo Metatron. No entanto, quem pode garantir que não se trata de Jesus?

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Sobre Marco Aurélios, o Garcia e o Weber...


Marco Aurélio é o nome do assessor especial da Presidência, de sobrenome Garcia, aquele que fez um gesto obsceno quando da divulgação de uma reportagem que "salvava" a imagem do governo Lula diante do acidente do vôo JJ 3054 da TAM.
Marco Aurélio é também o nome de um particular amigo, assessor especial do Fórum local, de sobrenome Weber e colunista do Jornal "O Imparcial", de São Gabriel, que tem posições ideológicas bastante distante das minhas.
Pois neste sábado, 08 de agosto, os dois Marcos Aurélios se encontraram, pelo menos ideologicamente. Em sua coluna dessa data, Marco Aurélio, o Weber, defende Marco Aurélio, o Garcia. Eis o trecho da coluna de Weber, em negrito:

Episódio Marco Aurelio Garcia que, em meio à crise gerada pela queda do airbus da TAM, fez um gesto obsceno sob a vigilância ilegal e abusiva da câmera de um repórter sensacionalista, alimentou o ódio de alguns e a indiferença de outros.
O terceiro grupo, bem menos numeroso e do qual faço parte, enxerga mais longe, muito além do episódio, ou seja, vê a situação como, no mínimo, invasão de privacidade, passível, inclusive, de ação judicial.
Você, eu ou qualquer pessoa, entre quatro paredes, inclusive no ambiente de trabalho, entre colegas, tem o direito de fazer o que quiser. É lamentável e preocupante a distorção eo estardalhaço que foram feitos.
.

Eu podia ficar quieto, mas não consigo. Vai aí uma resposta a ele endereçada, em itálico:

Prezado Amigo Marco Aurélio:

Primeiramente, sorte neste retorno às lides de imprensa. Este contumaz leitor já sentia falta.
Hesitei por muitos dias em saber se te enviava ou não essas observações a respeito de tua recente coluna, mas resolvi crer que nossa amizade mútua nos permite essas pequenas discordâncias, ainda que eu saiba que, na tua coluna, sempre terás a palavra final, como é o desejável, diga-se de passagem.
Todavia, não pude deixar de me surpreender ao ver tua defesa do gesto praticado pelo senhor Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República, diante da notícia de que uma falha técnica poderia ter resultado o desastre do Airbus da TAM, em que morreram centenas de brasileiros. Me parece que lhe ofendeu mais o fato de a Rede Globo ter flagrado o gesto ofensivo do grande conselheiro do que a agressão em si, que ficaria impune não fosse a presença da imprensa diante das janelas do Palácio do Planalto.
A uma certa altura do texto, o amigo declara que qualquer pessoa, entre quatro paredes, inclusive no ambiente de trabalho, entre colegas, tem o direito de fazer o que quiser. Não posso concordar com tal afirmação, ainda mais quando se trata de um assessor judicial de alta envergadura, que sempre soube se comportar com denodo nas repartições judiciais onde trabalhou, fato de que sempre fui testemunha nas vezes em que lhe visitei. Se formos considerar que cada pessoa pode fazer o que quiser, no ambiente de trabalho entre quatro paredes, não poderia ser punido pela lei quem, por exemplo, praticasse sexo dentro de um gabinete. O senhor sabe, melhor do que eu, que no serviço público, não cabe nenhum comportamento de caráter privado.
Esta é a distância, aliás, que o governo Lula parece não mais distingüir: a separação entre o público e o privado. Integrantes de uma agência de Aviação Civil que viajam de graça nas companhias que deveriam fiscalizar, empreiteiras que pagam contas de amantes de senadores aliados de Lula, companhias que subsidiam atividades do filho do presidente e recebem atenção especial do governo... são inúmeros os casos, de que o gesto do senhor Marco Aurélio é apenas um triste emblema, além de um grave desprezo diante da dor de centenas de famílias. Valia mais comemorar um fato que talvez salvasse a honra do governo, ainda que sapateando sobre os cadáveres? Este cidadão, nem mesmo dignou-se a pedir desculpas com clareza pelo ato, limitando-se a evasivas.
Perdoe-me a indiscrição e até a extensão desse texto, mas se perdemos nossa capacidade de indignação, não deixamos nossas esperanças criar raízes.


Claro que, por dever de justiça, publico também a resposta que ele me enviou, em caráter pessoal, no texto abaixo:

Meu caro Claudio:
Inicialmente, obrigado pelo prestígio.
Ao contrário do que possa parecer, não estou fazendo qualquer apologia ao autor do gesto.
Apenas defendo o sagrado direito de ação e privacidade, sem qualquer conotação pessoal.
Imprensa marrom, sensacionalista e invasiva à privacidade, tem passagem livre comigo.
Há coisas, dileto amigo, que vão além de simples gestos isolados, que atingem o todo, que comprometem até mesmo o futuro e, como bom pai, não quero determinadas coisas, determinadas práticas ilegais, abusivas e covardes, em uso no país que legarei aos meus filhos.
Assim como defendo o direito sagrado de opinião, por mais absurda que ela possa parecer, por mais chocante que se apresente aos nossos olhos ou estômagos, afinal, a reação à morte, à tragédia, ao inusitado é um sentimento pessoal e inalienável.
Assim como alguns chorarão a minha morte, outros indeferentes, muitos se sentirão satisfeitos com ela.
É do ser humano.
Um grande abraço.
Marco.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Madrugada


Tela Starry Night, de Van Gogh, 1889

Sempre tenho usado este espaço para reflexões um pouco intimistas. Noutro dia, entretanto, surgiu a inspiração para um conto. Antes de publicá-lo, achei que devia submeter à apreciação de um escritor que admiro muito: Lucas Loch Moreira, do blog "Bola Esquerda". Depois de receber o OK dele, achei que podia seguir adiante. Eis aí:

- Tudo bem, doutor Herculano?
A figura franzina quase se esgueira inteiramente pela porta do grande escritório. Sob os óculos de fundo de garrafa, a visão obliterada por cerca de quatro graus de astigmatismo consegue ver a pançuda e proeminente figura atrás de uma mesa de madeira nobre, em um escritório acarpetado. Sobre a mesa uma balança estilizada e a imagem de Themis, a deusa da Justiça.
- Sim, doutor Eufrásio... em que posso servi-lo? - É preciso dizer que a fisionomia do doutor Herculano, juiz de direito da comarca, não era das mais pacientes. Doutor Eufrásio era um dos melhores advogados daquela pacata cidade, mas às vezes era um tanto aparvalhado.
- Desculpe a intromissão, mas eu precisei vir aqui perguntar...vai ser hoje?
O juiz imediatamente franziu a testa, em evidente sinal de reprovação. Como quem pensa estar sendo espionado, fecha a porta e responde, num tom de indignação, quase susurrado:
- O senhor não deve fazer perguntas a respeito disso! Não lembra o que todos combinamos?
- Sim, doutor Herculano, desculpe...é que eu mal posso esperar...
- Controle-se! Será nessa madrugada. Mas quando for a hora, todos saberão!
- Sim, doutor...desculpe.
- E esta conversa não existiu!
O esmirrado doutor Eufrásio sai da sala do juiz Herculano, um pouco envergonhado pela repreensão. Precisa aprender a controlar seus impulsos. No entanto, sente-se exultante e reconfortado por saber que seria hoje, ainda de madrugada. Desde a primeira vez, sente uma sofreguidão que se prolonga durante toda a semana, até o novo reencontro. Uma adrenalina indescritível perpassa todos os seus poros. Eufrásio, homem probo, decente, uma reserva moral do Direito naquela cidade, mal conseguiria dormir.

De madrugada, Eufrásio se levanta. A fiel esposa dorme o sono dos justos. No outro quarto, as crianças estão dormindo placidamente. Eufrásio veste a túnica preta e desce até a porta. Todos já estão esperando, nos fundos da Matriz da cidade. Apesar das túnicas e das máscaras, era possível reconhecer a barriga do doutor Herculano, a barba proeminente do padre Olavo, os óculos do vereador Demócrito... fazendeiros, advogados, a nata da pequena cidade.
- E aí, quem vai ser hoje?
- Vai ser o capataz do gerente Vetusto, do banco da província. Daqui a pouco ele desce pela rua...
De fato, não demorou muito para que surgisse na curva do beco um negro baixote, esturricado, completamente bêbado. Cantarolava uma música estranha, um pagode qualquer, quando viu seu caminho cercado por dezenas de homens vestindo togas negras, carregando tochas. A princípio, pensou ser uma alucinação da bebida. Tentou dar meia volta, mas atrás de si havia mais deles. Estava cercado. Não havia como correr, e mesmo que houvesse, estava tão bêbado que não conseguiria.
A primeira paulada foi dada pelo assessor da prefeitura, engenheiro Clóvis. Em seguida todos, um a um, desferiram pauladas, coronhadas, facadas, matando aos poucos o negrinho. O sangue e os gritos deixavam os nobres da sociedade ainda mais eufóricos e descontrolados.
Quase cinco horas da manhã quando o doutor Eufrásio volta para casa. Deita ao lado da esposa, que pontualmente às sete horas o acorda com um beijo. Após o banho, assenta-se à mesa do café enquanto a esposa, assustada, ouve no rádio sobre mais um cruel assassinato no beco atrás da Matriz.
- Eufrásio, você ouviu? Mataram o criado da casa da Candinha, mulher do gerente do banco...diz que foi tanta paulada que quase não deu pra reconhecer... que coisa terrível!
- É verdade, querida...nossa cidade está deixando de ser pacata...pode me passar o açúcar, por favor?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Bloom, Shakespeare e o Brasil: sobre inação e esperança


Hamlet e Horácio no cemitério, 1839 - Eugène Delacroix (França/1798-1863)


Há tempos venho refletindo sobre as razões de uma evidente prostração cívica que vem se abatendo sobre o povo brasileiro no atual governo. É nítido o estado de consternação profunda da maioria da população diante da sucessão incontrolável de escândalos de corrupção, incompetência, despreparo administrativo e político dos atuais mandatários da República (?). no entanto, as mesmas desgraças que, em outros povos, teriam estimulado as pessoas a ir às ruas, aqui está produzindo um efeito violento de apatia, quase como o estado de ânimo do indivíduo melancólico, que se tranca no quarto de sua tristeza para não ver a luz do dia. Um país em depressão profunda. Como chegamos a isto?
Os efeitos dos escândalos que quase retiraram o segundo mandato do presidente Lula, ainda ecoam como um torpor sobre a consciência da Nação. A absoluta falta de apuração dos fatos por um congresso que se auto-enxovalhou, levando o eleitor a “não trocar o certo pelo duvidoso (como, aliás, propunha um dos jingles da vitoriosa campanha de Lula) parece ter conduzido o cidadão comum a um estado de letargia. Sucedem-se, um a um, os bois do senador Renan Calheiros, as bravatas de Roriz, a posse de um suplente já intrincado em maus negócios, as relações promíscuas de senadores com empreiteiros, uma comissão de ética disposta a absolver sem checar, e nada disso parece capaz de provocar alguma reação, ainda que mínima. E isso quando é evidente que o cidadão comum abomina tudo isto que está acontecendo.
Uma reflexão de um dos mais notáveis e explosivos críticos literários de todos os tempos nos parece conduzir a uma resposta, ou pelo menos, a um caminho em direção a ela, ainda que de forma totalmente involuntária e acidental. O genial escritor Harold Bloom, professor da Universidade de Yale, ao analisar a obra do imortal bardo inglês Willian Shakespeare, vê em sua peça Hamlet o arquétipo definitivo de todo o drama da existência. A peça que narra a trajetória de um príncipe instigado pelo fantasma do pai a vingar sua morte traz um personagem central tão rico e tão profundo que a famosa cena da caveira (“pobre Yorick, eu o conhecia bem...”) virou clichê no teatro e na psicanálise. É Bloom quem procura desvendar por que o personagem é tão arredio a agir, e se revolta cada vez que é interpelado pelo fantasma de seu pai a matar o próprio tio: “Hamlet acha humilhante ser chamado a corrigir um mundo que está fora dos eixos inevitavelmente. Saber é inação. A ilusão é que nos leva à ação. A hesitação é sinônimo de consciência, e Hamlet é o personagem mais auto-consciente de toda a história da literatura”.
Esta incrível assertiva, além de nos traduzir a natureza de toda a melancolia da civilização ocidental, nos traz de volta ao Brasil de nossos dias. Os jovens que foram às ruas na época do “Fora Collor”, o fizeram ainda imantados pela ilusão de moralizar o país, e acreditavam que para isso, bastava apenas colocar as pessoas certas no lugar certo, dando o poder aos éticos, aos puros. No entanto, desde que o escândalo do mensalão revelou a verdadeira natureza de algumas vestais de pureza dos anos anteriores, o povo brasileiro parece sem reação. A ilusão foi-se embora, e no seu lugar ficou uma realidade que o cidadão comum simplesmente não pode suportar.
Se “saber é inação”, como propõe Harold Bloom, o povo não sente-se mais compelido a reagir por saber que não há mais o bem absoluto. Este abandono da esperança é um traço profundamente sombrio dos nossos dias...falta ao brasileiro entender que a esperança pode, sim, ser uma forma de saber, e não apenas uma vaga incerteza.
Aliás, este é o falso embate que por anos tem dividido religiosos e cientistas: a fé x a razão. Esta dicotomia é enganosa porque sempre supõe que a razão é o terreno do conhecimento, e a fé, o terreno da ilusão. Na verdade, a única convergência entre o aristotélico Agostinho de Hipona e o platônico Tomás de Aquino é o reconhecimento da fé como uma forma de conhecimento, tanto quanto a razão. Fé e razão não são necessariamente forças contrárias, mas sim formas diferentes de conhecimento. Pela razão se chega ao conhecimento das verdades da natureza, e pela Fé se chega ao conhecimento das verdades do espírito. É Paulo de Tarso quem afirma: “a fé é o firme fundamento das coisas que não se vêem”.
Saber não precisa, necessariamente, ser inação. Nem tudo aquilo que está palpável aos olhos encerra toda a existência. Saber que as ilusões são enganosas, pode finalmente nos libertar em direção a uma realidade informada, onde cada um é responsável pelos seus atos, e onde é possível, sim, ter esperança. Não em uma espécie de “novo homem”, mas em consciências livres, capazes de tocar o solo da realidade e, ainda assim, caminhar altivas.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”(João 8.32)...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A nova polêmica de Ratzinger e uma carta a Reinaldo Azevedo


Ratzinger, o famigerado Prefeito do Santo Ofício, não cansa de enviar sinais ao mundo sobre qual é seu modelo predileto de Igreja: a Igreja da Contra-Reforma, que reagia com fúria às dissidências do protestantismo. Tanto melhor, pelo menos acaba com as falsas ilusões semeadas pelo ecumenismo de seu predecessor, Karol Wojtyla, um papa com muito mais talento político que o atual, mas que bebia da fonte teológica do vasto conhecimento de seu então fiel escudeiro, o próprio Ratzinger.
Acaba de sair uma bula em que Sua Santidade Mefistofélica declara solenemente que a Igreja Católica é a "Única e Verdadeira Igreja de Cristo". Pelo menos, está sendo coerente com os séculos de intolerância sangrenta que perfazem a história do Romanismo.

O jornalista Reinaldo Azevedo, um dos mais brilhantes analistas contemporâneos do país, escreveu, em defesa do papa, um comentário em seu blog, o qual reproduzimos em vermelho:

"Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão, filho de João: porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.E eu te darei as chaves do reino dos céus. E tudo o que ligares, pois, na terra será ligado também nos céus, e o que desatares sobre a terra será desatado nos céus.(Mateus 16, 17-20)
*E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.Ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.Ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e estais certos de que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.(Mateus 28, 18-20)*
“Tenho também outras ovelhas que não deste aprisco, e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um aprisco e um pastor”(João 10, 16)
Não estou transcrevendo isso para convencer os não-católicos. Os próprios católicos, creio, devem se convencer disso a cada dia, enfrentando os múltiplos apelos da descrença sedutora. A questão é outra: ou a hierarquia católica, de que o papa é o líder máximo, acredita nisso — e, pois, suas cinco resposta disseram o óbvio — ou não acredita. A Igreja, deve crer um católico, é aquela fundada por Cristo e entregue a Pedro. A missa e os sacramentos foram instituídos por Ele como caminhos da santificação. Cristo estará com os membros de sua Igreja, seu corpo místico, até o fim dos tempos. Ela é:- única e una (aquela de Pedro);- santa (já que extensão do Cristo);- católica (vale dizer: universal) porque feita para todos os homens;- apostólica: fundada nas verdades reveladas aos apóstolos e seus sucessores.Você é obrigado a acreditar nisso? Felizmente, não. Mas um católico é. A Igreja revelada pelo Cristo, para quem professa essa fé, é aquela que deriva de Pedro. Leonardo Boff, no livro Igreja, Carisma e Poder, sugere que outras denominações possam guardar essa verdade revelada. Tudo bem — desde que ele abra mão de ser um teólogo católico. Não me consta que se considere uma violência que o protestantismo rejeite o culto a Maria. Ninguém é forçado a pertencer ao corpo da Igreja Católica. Feita tal escolha, não pode ambicionar destruir os princípios que a organizam, incluindo a hierarquia, que, nessa perspectiva, não é uma imposição extemporânea, mas o desdobramento de uma revelação.De novo, trata-se de uma questão de lógica. E daquele tipo escandalosamente elementar.

Enviei a seu blog uma resposta, que reproduzo em azul:

Prezado Reinaldo Azevedo:
Tenho lido com atenção vossas observações sobre o manifesto em que a Igreja Católica reafirma sua convicção de ser a única e verdadeira Igreja de Cristo. Natural, de fato, que a Igreja Católica tenha este pensamento. Daí a pensar que esta afirmação (nada mais do que uma construção teológica), tenha embasamento bíblico ou histórico, é um pouco de exagero. Não lhe culpo, pois essa licença poética com a História vem sendo ensinada pelo romanismo há séculos, contra a verdade histórica e o raciocínio bíblico.Em seu favor, a Igreja sempre evoca a afirmação de Cristo no Evangelho de Mateus:"Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja".Sei que o senhor não desconhece o fato de que o Novo Testamento foi escrito originalmente em grego demótico, língua adotada pelos judeus na dispersão. No original, há duas palavras: Petrus (Pedro) e Petra (pedra). O significado semântico de "Petrus" seria algom como "pedregulho", ou "pedrinha". "Petra", no entanto, significa "a rocha". Logicamente, o texto nos apresenta que se está falando de duas coisas distintas. Pedro é uma pequena pedra, e existe a grande Pedra, a verdadeira rocha sobre a qual está alicerçada a igreja cristã em toda a face da terra: Jesus Cristo. Aliás, é o próprio Pedro quem nos fala, clarificando o sentido verdadeiro desta polêmica:"E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, Vòs também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdòcio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura se contém:'Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa;e quem nela crer não será confundido'. E assim para vòs, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes,a pedra que os edificadores reprovaram,essa foi a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo,para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.
O conceito de "Igreja" usado pelo catolicismo para excluir os demais ramos do cristianismo de sua visão, é o da Igreja como instituição. No entanto, o conceito bíblico de "eclesia" não é humano, e sim espiritual. O "Corpo de Cristo" é formado pelos crentes fiéis em toda a Terra, que tem comunhão com o cristianismo nascido em Jerusalém, não em Roma.A sucessão apostólica em Pedro é também uma falácia histórica. O papado sequer existia antes da "conversão" do Imperador Constantino, em 313 d.C. A palavra "papa" designava qualquer bispo, que é pastor e "pai" de seu respectivo rebanho. Seu sentido histórico foi fundamentado muito mais tarde, na rica construção teológica que o tornou sucessor de Pedro, o Apóstolo.Há uma passagem nos Evangelhos de Marcos e Lucas que, se fosse relida pelo brilhante teólogo Ratzinger, talvez lhe trouxesse um melhor entendimento da questão da tolerância dos demais ramos do cristianismo. Esta lá, em Marcos 9.38-40:
"E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós, é por nós."span style="color:#3366ff;">

Abraços fraternos,

CLÁUDIO MOREIRASão Gabriel - RS

P.S: A sua citação de João 10:16 está fora de contexto hermenêutico. Quando fala em "outro aprisco", Jesus não poderia estar falando de outras denominações, que não existiam. Seu "aprisco original" é o povo judeu, as ovelhas do "outro aprisco" somos nós, os gentios.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Bebendo das águas de Deus...


“Os aflitos e necessitados buscam águas, e não há, e a sua língua se seca de sede; eu o Senhor os ouvirei, eu, o Deus de Israel não os desampararei.Abrirei rios em lugares altos, e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em lagos de águas, e a terra seca em mananciais de água.Plantarei no deserto o cedro, a acácia, e a murta, e a oliveira; porei no ermo juntamente a faia, o pinheiro e o álamo. Para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isto, e o Santo de Israel o criou.” (Isaías, 41;17-20)

A mensagem profética trazida por Isaías ao povo de Israel, 700 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, nos fala de um tempo de amargura e sequidão para um povo que vivia sob o escárnio da fome, da seca e do abandono. A chuva que não vinha, a plantação que não vingava, a vergonha que não cessava, tornaram-se parte inseparável da vida de um povo quebrantado. O resultado estava expresso na linguagem do profeta: “os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e sua língua se seca de sede”. Quem já teve a experiência de ficar vários dias sem água sabe o que é sede profunda, como a língua fica grossa, pegajosa.
Embora se esteja falando de uma situação real, o sofrimento do povo a quem Isaías falava hoje nos parece uma perfeita alegoria dos nossos dias. Milhares de pessoas correm de um lado para outro em busca de águas que refresquem o deserto de suas vidas vazias e sem sentido, mas não a encontram. Muitos estão tentando saciar sua sede espiritual com água suja, e achando-se privilegiados por beber água podre em meio ao deserto.
Vivemos nos dias descritos pelo anjo Gabriel ao profeta Daniel, os dias do tempo do Fim: “Muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará” (Dn 12;4). De fato, hoje se corre das mais variadas formas. As pessoas correm de carro, de avião, com o celular ao pé do ouvido, através da internet, correm de casa para o trabalho, do trabalho para a casa, e por mais que tentem racionalizar o tempo, nunca possuem tempo. E numa vida vazia de sentido, as pessoas compram sensações. Não se compra mais um bem material, e sim o sentimento de prazer associado a ele. O consumismo desenfreado é mais uma das “cisternas rotas” onde alguns tentam saciar sua sede.
Mas a promessa contida na profecia de Isaías nos fala de um Deus que quer nos dar de beber algo precioso: a água viva (João 7:8). A verdadeira fonte de água limpa, cristalina e pura para nossa sede espiritual, é o próprio Cristo, o Verbo que se fez carne, a Palavra viva de Deus! Apenas a Palavra Sagrada pode nos trazer saciedade plena.
No antigo Tabernáculo de Moisés, havia uma enorme fonte de águas, onde os sacerdotes lavavam as mãos e os pés. Esta enorme fonte, onde qualquer um podia ver sua imagem refletida, representa a Palavra de Deus, onde podemos contemplar a nossa vida como em um espelho. A água que nos purifica, que nos sara.
“Abrirei rios em lugares altos e fontes no meio dos vales”, diz o Senhor. Haverá momentos em que para alcançar as bênçãos de Deus, a vitória que mata nossa sede, precisaremos escalar montanhas, vencer obstáculos, superar problemas. Mas devemos fazer isso confiantes, pois no topo da montanha encontraremos a água mais pura, mais limpa. E para aqueles que estão no vale, que enfrentam a depressão, e que atravessam o “vale escuro da sombra da morte” (Salmo 23;4), Deus garante: não há o que temer. No fundo deste vale, desta depressão tão profunda, haverá o fim de toda a sede!
A vida que gera frutos é a que está sempre regada por água limpa, como nos sugere o Salmo primeiro: “Será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará”;
Este é o meu desejo a teu respeito.
Que Deus te abençoe abundantemente.

Um comentário em Zero Hora...

No dia 2 de junho, a jornalista Cláudia Laitano publicou em sua coluna de Zero Hora, o artigo "Autoridades Polonesas". Para quem não está situado no assunto, reproduzo o que ela escreveu, em vermelho (óbvio), colocando em negrito os trechos mais gritantemente esquerdopatas :

Uma insólita polêmica ressurgiu esta semana - requentada e com quase 10 anos de atraso - a pedido de "autoridades polonesas". Vale a pena lembrar o histórico de uma das mais bizarras controvérsias envolvendo bichinhos de pelúcia de que se tem notícia. Em 1999, Tinky Winky, um dos quatro Teletubbies - série de televisão idealizada para crianças que ainda não tiraram as fraldas - foi considerado uma potencial ameaça à família e aos bons costumes pelo pastor de uma obscura igreja do grotão profundo dos Estados Unidos. Os sinais de que Tinky Winky era um ícone gay maldisfarçado eram evidentes, denunciava o pastor em um texto intitulado Alerta aos Pais: "Ele é roxo, cor do orgulho gay, e sua antena tem a forma de um triângulo, outro símbolo de orgulho gay". O reverendo Jerry Falwell esqueceu de mencionar que Tinky Winky tem o hábito de carregar uma bolsa vermelha, gosta de comer "creminho gostoso" e rola na grama com os amigos quando está feliz. Suspeito, muito suspeito. Indiferentes ao fato de que as declarações do pastor foram consideradas ridículas na época, as ubíquas "autoridades polonesas" pediram esta semana que psicólogos avaliassem se um programa de TV pode estimular comportamentos associados à homossexualidade. A idéia é proibir a exibição dos Teletubbies na televisão pública polonesa se for provado que Tinky Winky é, sim, do babado. O governo polonês, não por acaso, já foi alvo de críticas da União Européia devido à sua posição ultraconservadora com relação aos direitos dos homossexuais. Há dois meses, o Ministério da Educação da Polônia anunciou planos para demitir professores que promovam a "cultura homossexual" em sala de aula. Professores devem andar pensando duas vezes antes de indicar autores como Virginia Woolf, Oscar Wilde e Truman Capote. Ninguém, em sã consciência, quer acordar de manhã e descobrir que está sendo perseguido por "autoridades polonesas". Enquanto isso, não muitos quilômetros a oeste, o governo britânico está implantando em 15 escolas primárias, em caráter ainda experimental, um ousado programa de combate à homofobia. A idéia é oferecer para alunos, de quatro a 11 anos, contos de fadas que mostram personagens gays - como um príncipe que diz não a todas as pretendentes e depois se apaixona por outro príncipe ("King & King") ou um casal de pingüins machos que cria um filhotinho abandonado ("And Tango Makes Three"). A iniciativa faz parte do projeto No Outsiders (sem excluídos) e inclui várias ações junto a funcionários e colaboradores de repartições públicas do Reino Unido com o objetivo de coibir práticas discriminatórias de todos os tipos - seja de gênero, etnia, religião ou classe social. Parece moderninho demais? Politicamente correto demais? Pode ser, mas a história dos costumes se faz assim mesmo, com microrrevoluções que se espalham em ondas, e de forma desigual, por todo o planeta. Em um extremo, "as autoridades polonesas". Do outro, uma sociedade testando seus limites de tolerância e ousadia. Não sei vocês, mas nesta briga sou inglesa desde pequeninha.

Pois é, né? Se há uma coisa que me mobiliza a reagir, é essa falsa candura da patrulha do "polliticaly correct". Em resposta, mandei uma carta que, noblesse oblige, foi publicada na sessão "Sobre ZH" em 22 de junho. Segue o texto, em azul. As frases em itálico foram suprimidas da publicação em ZH, por "motivos de espaço". Tudo bem, mas o leitor deste blog facilmente notará que foram justamente as observações mais contundentes da carta as que foram selecionadas para a degola. "No stress"...

Fiquei profundamente surpreso que uma jornalista tão bem informada como Cláudia Laitano tenha se referido de forma tão desidiosa a uma das mais expressivas lideranças do protestantismo contemporâneo em seu artigo “Autoridades Polonesas”. Num tom que beira o preconceito religioso, Laitano chama de “pastor de uma obscura igreja do grotão profundo dos Estados Unidos” a ninguém mais ninguém menos que Jerry Fawell, líder da Maioria Moral, cuja influência na política americana é grande o suficiente para desqualificar o uso do termo “obscuro”.
Na verdade, Fawell só é chamado assim por defender claramente a posição evangélica de repúdio ao homossexualismo, para horror dos politicamente corretos e do aparattchik das redações, que tentam a todo custo criminalizar a opinião livre de um segmento expressivo da comunidade. Neste momento tramita uma lei que, sob o belo pretexto de coibir manifestações de preconceitos aos homossexuais, tenta transformar os óbices doutrinários das igrejas em crime de opinião, regredindo aos piores tempos da ditadura.
Surpreende ainda que, ao abordar o tema dos livros infantis com histórias gays, o que ela acha um avanço (o que é seu direito), não haja menção à violação dos direitos dos pais que não querem submeter seus filhos a este tipo de educação pública. É o autoritarismo com toques politicamente corretos, saudado pela cronista.

domingo, 20 de maio de 2007

Cristianofobia: um traço da pós-modernidade?


O pensamento contemporâneo da sociedade globalizada, a que se convencionou chamar “pós-modernidade”, padece de graves incoerências. Embora advogue o pluralismo, a tolerância, a diversidade e outros tantos jargões do universo politicamente correto, o pós-modernismo se revela bastante seletivo sobre os temas que aceita exercer sua tolerância, desnudando, por detrás de uma roupagem humanista e progressista, um caráter absolutamente totalitário. Um dos modos como esse grave acento de intolerância se manifesta, é na forma como o mundo contemporâneo aborda temas como a religião.
Apesar do progresso tecnológico extraordinário, o mundo pós-moderno tem manifestado um interesse agudo pelo transcendente, pela espiritualidade. No entanto, quando se fala de religião, normalmente o pensamento pós-moderno prefere buscar suas referências naquilo que chama de “crenças alternativas”. O próprio uso da palavra “alternativa” pressupõe excluir os valores da Bíblia e do Cristianismo, que por terem tido uma ligeira influência sobre a civilização atual, são associados sempre ao atraso e ao obscurantismo.
Uma outra forma de buscar depreciar o cristianismo é semear a idéia, hoje bastante difundida, de que todas as religiões são iguais ou equivalentes. Esta idéia, além de falsa, é perigosamente agressiva com o Cristianismo, pois se as outras religiões tem o mesmo valor, não haveria mal algum em abandonar a fé cristã em favor de uma crença mais exótica, e por isso mesmo, mais “moderna”, como quer o imaginário atual.
Desde o ataque das torres gêmeas, em setembro de 2001, a mídia não se cansa de referir ao mundo ocidental como “civilização judaico-cristã”. O uso desta expressão, por si mesmo, já constitui, em tese, uma vitória tática dos inimigos do cristianismo, pois trata-se de uma forma sutil de associar a fé cristã à decadência moral do mundo ocidental, que escandaliza o mundo islâmico.
Nada mais falso, entretanto, do que este “apelido”. A civilização atual, deturpada como está, pode ter muita dívida ideológica com Sócrates, Platão, Aristóteles e, mais recentemente, Freud, Darwin, Nietsche, Karl Marx e Jean-Paul Sartre, pais do antropocentrismo e do relativismo existencialista que prega o hedonismo, a satisfação individual acima de qualquer custo. A mensagem bíblica é bem diferente: prega a solidariedade, o amor ao próximo, uma vivência de fé calcada numa relação sólida de respeito ao outro.
Outra forma de desacreditar o cristianismo é associa-lo a tudo que se produziu de obscurantismo na história mundial. Historiadores moderninhos amam culpar o cristianismo pelas cruzadas, e amam usar o termo “medieval” quando se referem aos valores cristãos. Esquecem eles que o cristianismo produziu as primeiras universidades na Idade Média, tão desacreditada e rotulada pelos humanistas de hoje.
Os existencialistas da pós-modernidade amam atribuir ao iluminismo ateu todas as conquistas da civilização em favor do bem estar da raça humana. Esquecem-se, no entanto, que se existem hoje escolas públicas, isto se deve principalmente a um jornalista metodista chamado Robert Raikes, que em 1780 criou as Escolas Dominicais para educar os filhos de operários através da leitura da Bíblia, um método que mais tarde foi apropriado pelo Estado com o ensino público.
Se o fim da escravidão foi conquistado em todo o planeta, isto se deve principalmente à luta de um pregador protestante chamado John Newton e do cristão protestante Willian Wilberforce, abolicionista que lutou pelo fim da escravidão na Inglaterra. Suas propostas foram derrubadas oito vezes, mas quase ao fim da vida, conquistou a aprovação do Slavery Abolition Act. O primeiro missionário presbiteriano no Brasil, Ashbel Green Simonton, também lutou pela abolição dos nossos escravos.
O que a pós-modernidade faz força para ignorar é um fato que não se pode calar: por onde o Cristianismo passou, escolas foram abertas, povos deixaram de praticar o canibalismo, os direitos das mulheres foram reconhecidos, o ensino para as crianças foi valorizado e muitas outras conquistas humanizaram o planeta. Hoje, tenta-se apagar pura e simplesmente a influência do cristianismo através de uma insistente propaganda negativa, que precisa falsear a realidade para atingir seus objetivos. No entanto, os que depositam com firmeza sua fé no Evangelho de Jesus Cristo continuarão tendo motivos para se orgulhar de seus efeitos: famílias restauradas, vidas transformadas, seres humanos melhores.
Este é o maior milagre da fé cristã.

sábado, 19 de maio de 2007

O Poder da Graça...


(EF 2:8) - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.


A doutrina da Graça é o que há de mais central e distintivo no cristianismo bíblico. Não há, em nenhuma outra religião estruturada ao redor do planeta, nenhuma doutrina que lhe seja equivalente. Foi através da divulgação desta doutrina que a igreja primitiva experimentou um notável crescimento (Leia Atos 2.42), e justamente por isso, não é possivel entender verdadeiramente a mensagem de Jesus Cristo sem se debruçar sobre este ensino tão profundo quanto desconhecido, que constitui o centro da mensagem cristã em todo o Novo Testamento, do Evangelho de Mateus ao Apocalipse de João, o Evangelista.
A Graça, antes de tudo, é uma ruptura. O judaísmo antigo, como o dos dias atuais, era o depositário fiel da crença em um único Deus, vivo e verdadeiro. No entanto, na religião instituída por Moisés (honrado pelos judeus com o nome Moshé Rabeinu, que literalmente significa “Nosso mestre Moisés”), a vinculação entre Deus e os homens se fazia através de um acordo escrito, um pacto. A aliança mosaica, ou simplesmente “A Lei”, como era chamada na Bíblia. Ao contrário do que pensa o imaginário popular, esta lei está muito longe de se restringir apenas aos Dez Mandamentos. Os judeus ortodoxos calculam que existam 613 mitsvot – mandamentos, prescrições – estabelecidas na Lei de Moisés. A relação de Deus com o Homem, portanto, se fazia através de um conjunto de regras pré-estabelecidas, um verdadeiro código de ética e de moral. Embora ditadas pelo próprio Deus, não demorou muito para que estas regras passassem a ser utilizadas para justificar o poder de uma casta sacerdotal sobre o povo, exatamente como se fazia nas crenças pagãs dos outros povos. A religião que deveria se basear numa relação ética com o Deus vivo foi se deformando em um conjunto de regras que mais desunia do que promovia a concórdia entre os judeus.
O gesto de Jesus, ao morrer na cruz do Calvário, no entanto, inaugura uma nova forma de relacionamento entre Deus e seu povo, não por acaso chamada de Nova Aliança. A Lei de Moisés exigia sacrifícios de animais para apagar o pecado cometido por qualquer pessoa. Jesus, derramando sangue divino, consuma-se como o sacrifício perfeito, definitivo, remindo o pecador. Em suma: a graça acontece quando eu não posso pagar, e alguém paga por mim.
O entendimento desta doutrina é tão vital para o cristianismo que, toda vez que de alguma forma este ensinamento foi deixado de lado, a igreja cristã perdeu sua vitalidade bíblica. Muitos homens de Deus, tocados pela descoberta desta mensagem, como Savonarola, Zwingli, John Huss, pagaram com a própria vida a ousadia de difundir ao mundo essa mensagem libertadora. Foi preciso que Lutero se levantasse para restituir à igreja a mensagem de que a salvação não provém de obras de caridade, de bondade ou qualquer outra demonstração de esforço humano, mas é um Dom de Deus, que não pode sequer ser reivindicado por ninguém. Deus o concede liberalmente pela Graça, pela experiência viva do seu Filho que se fez carne, habitou entre nós, conheceu como é difícil ser um homem sujeito aos ataques do diabo e do pecado. Ele venceu a morte para que nós pudéssemos ter este maravilhoso direito.
Quando conhecemos o mistério da Graça, sabemos que nossa relação com Deus não depende de sermos bonzinhos ou mauzinhos, mas sim da Fé. aceitar que Jesus derramou seu sangue pelos nossos erros e crer que estamos livres do poder do pecado é o efeito que a Graça exerce sobre nós, trazendo certeza da Salvação e dependência completa de Deus, em quem deixamos de ser escravos dos nossos próprios desejos para sermos livres em Cristo.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Mangabeira Unger...para nunca mais esquecer!

Na foto, Lula com Roberto Mangabeira Unger, aquele que o chamou de corrupto. Estão rindo muito... deve ser de nós.

O texto abaixo foi publicado pelo cientista político Roberto Mangabeira Unger na Folha de São Paulo de 15 de novembro de 2005, ano dos escândalos do mensalão. Neste ano de 2007, este mesmo senhor aceitou convite para integrar o ministério de Lula, à frente de uma estrovenga chamada Ministério das Ações de Longo Prazo. O que faz este senhor na equipe de um governante que já classificou como "o mais corrupto da história", ninguém sabe. Aliás, será que ele irá dizer a frase que sempre tentaram atribuir erroneamente a FHC: "Esqueçam o que eu escrevi"? Como confiar o ministério das "Ações de Longo Prazo" a alguém cujo texto não sobreviveu a apenas um ano e meio?


Bem, republico para que nunca mais se esqueça. Você, caro internauta, faça seu julgamento...


Pôr fim ao governo Lula

"Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas. Imiscuiu-se, e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas e negócios privados. E comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de recursos orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos.Afirmo que a aproximação do fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do presidencialismo e não leva a Constituição a sério.Afirmo que descumpririam seu juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os mandatários que, em nome de lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu impedimento. No regime republicano a lealdade às leis se sobrepõe à lealdade aos homens.Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou.Afirmo que a oposição praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes e aderentes ao mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro que sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas.Afirmo que as bases sociais do governo Lula são os rentistas, a quem se transferem os recursos pilhados do trabalho e da produção, e os desesperados, de quem se aproveitam, cruelmente, a subjugação econômica e a desinformação política. E que seu inimigo principal são as classes médias, de cuja capacidade para esclarecer a massa popular depende, mais do que nunca, o futuro da República.Afirmo que a repetição perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, nos corações dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga intocável e perpétuo.Afirmo que, nesse 15 de novembro, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de presidir as comemorações da proclamação da República aos que corromperam e esvaziaram as instituições republicanas"

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Por que não sou mais socialista

Este artigo é um desabafo. Faço esse alerta para aqueles que, como eu, não são assim muito fãs de textos em primeira pessoa. Sempre procuro escrever baseado no princípio de que existem assuntos muito mais relevantes do que minha própria vida, que, aliás, não diz respeito a mais ninguém. No entanto, como volta e meia sou cobrado por amigos sobre os meus posicionamentos atuais, algumas vezes até com alguma agressividade, resolvi tentar escrever, de forma ordenada, o que me levou a uma mudança tão brusca de pensamento nos últimos anos. Partidos, quando mudam de posição ao longo da história, revisam seus dogmas, elaboram documentos, para dar alguma densidade à sua mudança. Talvez eu esteja devendo a mim mesmo um manifesto mais elaborado sobre minhas convicções.
Durante toda a minha vida, fui socialista. Aprendi a desejar um mundo igualitário vendo a caminhada ética construída por meu pai, um vereador do velho MDB numa cidade com uma elite violentamente adesista, e isso em pleno regime de exceção. Aprendi com ele a amar o nacionalismo, a acreditar no potencial do Brasil para desenvolver suas próprias riquezas. Mas acima de tudo, aprendi a acreditar que a esquerda poderia ser a redenção saneadora e ética do país, varrendo a corrupção que tanto caracterizou o regime militar. Ah, é bom detalhar: meu pai era brizolista ferrenho, tinha pertencido à ala moça do extinto PTB antes de fazer carreira no MDB, e quando Brizola voltou do exílio, fez parte da fundação do PDT.
O socialismo, portanto, sempre foi em minha vida, um caminho natural. Ainda hoje, boa parte dos meus parentes é filiado a partidos como PT, P-Sol e outros do gênero. Meu pai encarava o PT e seu anarco-sindicalismo pelas lentes de Darcy Ribeiro, que dizia: “o PT é a esquerda que a direita gosta”. Brizola era ainda mais ferrenho ao dizer que o PT era “a UDN de macacão”. Embora profundamente distantes do ponto de vista doutrinário, UDN e PT se complementavam no quesito ético, na capacidade de destruir reputações adversárias.
Mas essa já é uma digressão. Volto ao ponto. Certo de que a esquerda era a única força política capaz de promover um saneamento ético no país, sempre apostei nela nas minhas escolhas. Acreditei, por muitos anos, no discurso autoritário que colocava “eles” (a direita) como os vendidos, os corruptos, os destruidores da soberania nacional, e “nós” (a esquerda) como os puros, os santos, os incorruptíveis. Esta característica autoritária está nos genes da esquerda desde Robespierre (aquele que mandava decapitar desafetos após a Revolução Francesa) e Marx (que conseguiu sobrepujar todas as outras vertentes de socialismo anteriores a ele, com uma propaganda altamente depreciativa, afirmando que apenas o seu pensamento era “científico”, e portanto, racional).
Acreditei que Lula, no primeiro mandato, teria as condições necessárias para promover um saneamento ético. No entanto, já na formação de sua aliança, fez par com o PL, depois de anos atacando FHC por ter se aliado aos “neoliberais” do PFL. Durante quase todo um mandato, as alianças espúrias com segmentos do coronelismo mais retrógrado foram sendo justificadas ou relativizadas, uma a uma, pelos “companheiros”. Era um tal de elogiar Sarney, Jader Barbalho, e outras figuras inacreditáveis.
Acordei finalmente para a grande mentira que a esquerda pregou no Brasil durante anos graças ao personagem Roberto Jefferson, a quem Olívio Dutra chamou de “má companhia”. Pois é, mas no segundo turno, a despeito de tudo o que foi dito, o candidato Lula fez questão de, mais uma vez, caminhar ao lado do PTB de Jéferson, um claro sinal de que o presidente fez muito bem suas escolhas.
Esta crise revelou o despudor de uma esquerda que, não contente em montar o maior esquema de corrupção da história da República (segundo as palavras do hoje ministro Roberto Mangabeira Unger). José Dirceu, Delúbio Soares, Marcus Valério...passados quase dois anos, hoje a esquerda, o PT, o presidente, a oposição, a imprensa, todo o país, enfim, se comportam como se nada de sério tivesse acontecido. O PT, tão ético e sério que é, até mesmo está correndo uma listinha em favor da anistia de José Dirceu. Notem bem: o termo “anistia” não é uma escolha acidental. Trata-se de equipará-lo aos perseguidos do regime militar, como se pudesse haver comparação entre resistir a um regime antidemocrático e montar uma quadrilha para saquear a nação.
É esta desfaçatez que não me convence mais. O partido da indignada Heloísa Helena, tendo a opção por desmoralizar completamente este esquema no segundo turno, declarou apoio a Lula. O PDT de Cristóvam Buarque, que até tentou se apresentar como alternativa de esquerda ética, agora integra o governo que combateu. O que Brizola diria...
As utopias passadistas corroeram a moral e o ânimo da maioria da nação, que ao invés de lutar por uma limpeza ética, resolveu apostar na continuidade do Bolsa-Esmola, nada mais do que um suborno de suas próprias consciências. Enquanto isso, as instituições democráticas são lentamente corroídas, o projeto autoritário avança, e a liberdade, esta senhora que nos torna desiguais, vai sendo solertemente esvaída...Mudei? Provavelmente. Mas mudei para continuar o mesmo, acreditando na prevalência da lei e de um regime democrático sólido, substantivo, para promover justiça e eqüidade no país. Bem, e se alguém me chamar de “direita”, imaginando me ofender? Bem, fico com a frase de Fernando Gabeira, alguém cujo pensamento antieclesial não me entusiasma nem um pouco, mas que certamente merece meu respeito ético: “Já que aprendemos finalmente que a esquerda não é o bem absoluto, devemos então reconhecer que a direita não é o mal absoluto”.

domingo, 6 de maio de 2007

FUNDEB - O novo Fundo da Empulhação Básica...

Foi aprovado no Congresso Nacional, depois de anos de gestação, o assim chamado Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, criado pelo governo Lula para substituir o Fundo do Desenvolvimento do Ensino Fundamental – FUNDEF. A notícia foi saudada com pompa pela grande imprensa, até porque durante os meses em que este projeto dormitou em berço esplêndido na pauta do Congresso, muitas reportagens laudatórias anunciaram esta medida como uma importante conquista para a Educação. Como não houve um político sequer com coragem suficiente para contestar uma medida considerada popular, o Fundeb foi e continua sendo recebido como uma unânime vitória. Mas, como já disse o escritor: “Quando todos estão pensando a mesma coisa, ninguém está de fato pensando”.
O Fundeb, vendido como uma redenção para a Educação Infantil e o Ensino Médio, constituem na verdade em um grande embuste, pois agora, o repasse que era destinado a Escolas Fundamentais e que teve grande impacto na melhoria da qualidade do ensino e da remuneração dos professores na maioria dos municípios brasileiros, agora será distribuído para atender também os gastos das escolas de Educação Infantil e de Ensino Médio. Ainda que o projeto preveja um aumento dos recursos, este aumento não será significativo na comparação com os gastos novos que serão incluídos à despesa dos municípios, que continuarão gestores dos recursos. Todo dirigente de Educação sabe que os gastos globais do Ensino Médio são muito superiores ao do Ensino Fundamental. Pois bem, estes gastos agora, serão responsabilidades dos municípios, e surpreendentemente, não houve um prefeito, um secretário de educação, que viesse a público perante a imprensa denunciar este engodo.
O FUNDEB institui uma municipalização branca dos gastos do Ensino Médio, hoje sob supervisão dos governos estaduais. Não por acaso, os governadores aplaudiram a atuação de suas bancadas federais, aprovando o novo fundo que, na prática, desonera o Estado do cumprimento de uma obrigação constitucional como ente federativo. Mais uma responsabilidade nas costas dos municípios, cujos gestores já atuam dentro de uma camisa-de-força jurídica, que engessa as iniciativas administrativas. Hoje, quem realmente administra a maioria dos municípios brasileiros é o Ministério Público, que determina o que deve e o que não deve ser feito.
Agora, com o Fundeb, mais uma carga se acumula. E os prefeitos, que não berraram antes, não podem mais berrar.

A Cultura da Vítima: uma realidade brasileira


"O Grito", de Munch: quem "grita", na verdade, é a realidade à volta... muito apropriado.
O fato que vou narrar é velho, Lula ainda era candidato à reeleição, mas falo dele por ainda considerá-lo um sinal típico dos tempos que estamos vivendo: Na primeira semana de agosto de 2005, em plena campanha do primeiro turno, os telejornais tiveram que render uns segundos de exibição à uma notícia que alguns simpatizantes da esquerda devem ter visto com algum constrangimento: No Espírito Santo, a Polícia estava investigando o envolvimento de uma pessoa “politicamente correta” nos episódios de queimas de ônibus por quadrilhas de ex-detentos: a ativista social Maria Aparecida Borges, militante da Pastoral Carcerária, uma ONG da Igreja Católica, foi acusada de ensinar a forma correta com que deveriam ser escritos os bilhetes a ser deixados nos ônibus atingidos. As gravações feitas pela polícia não deixam dúvidas de que a voz era da ongueira.

A imprensa não voltou a tratar do assunto nunca mais, mas não é disso que quero falar: Este lamentável episódio demonstra até onde alguns grupos “organizados” podem ir na sua simpatia pelo crime. A senhora Maria Aparecida, segundo a investigação policial, orienta os integrantes da quadrilha não apenas sobre como escrever, mas o que escrever. Orienta-os a dizer que a queima dos ônibus é um protesto contra as más condições dos presídios em que seus “irmãos” estão detidos. Inclusive sugere que, quando forem se apresentar diante de juízes ou das câmeras, estejam “bem sujos”, para passar a impressão de abandono completo pela sociedade.
Certamente, alguns dirão que esta ativista “extrapolou” suas atividades. Convivendo com os “encarcerados”, tomando-lhes as dores, achou que cooperar com uma ação criminosa de protesto poderia “sensibilizar” a sociedade “opressora”. Afinal de contas, segundo a boa dialética marxista, os meios ilegais são justificados pelos fins, ou seja, pela “causa”.
Tenho motivos para crer que esta cidadã acreditava piamente estar fazendo justiça. Achava que estava do “lado certo” ao municiar os subsídios intelectuais para as ações criminosas de seus “protegidos”, porque afinal de contas, eles são os “oprimidos”, os que não tiveram oportunidades. E nós, os “opressores”, que merecem ser violados em seus direitos, inclusive no de ir e vir – por isso a queima dos ônibus, como se a “elite” andasse de ônibus.
ONGs como a da dona Maria Aparecida, e grupos de orientação semelhante, são os principais incentivadores de uma certa “Cultura da Vítima” que permeia este país. Centenas de pessoas permanecem abaixo da linha da pobreza, odiando qualquer perspectiva de crescimento, porque são incentivadas a crer que a pobreza ou o atraso tenham, em si, algo de nobre ou redentor.
Diga-se, a bem da justiça, que este é um mal que não se restringe somente ao Brasil. O mundo todo é refém da suposta superioridade moral das auto-intutuladas vítimas que decidem optar pelo terror. O terror do PCC tem uma base humanitária: a falta de condições dos presídios paulistas. O terror praticado pelo MST tem outra alegação “politicamente correta”: a concentração de terras produtivas nas mãos do agronegócio. O terror do Hezzbollah contra Israel apresenta como alegação a ausência de uma pátria para o “povo” palestino. E, em nome destas causas “humanitárias”, se comete todo tipo de atropelo à lei, causando danos ainda maiores.
Em certo sentido, então, a senhora militante-ativista-quase-bandida é também uma “vítima”. Só que vítima de uma cultura que ela mesma contribui para disseminar no país, e por isso mesmo, ainda que saia impune, trata-se de uma vítima que não merece a menor piedade...

terça-feira, 10 de abril de 2007

Zaqueu: um judeu reencontra seu Rei


Uma das mais belas passagens do Evangelho relata o encontro de Zaqueu, o publicano, com Jesus, e revela com profundidade o caráter de Yeshua como o Messias de Israel.Jesus vinha para Jericó, e a multidão se acotovelava para vê-lo. Entre eles, Zaqueu, chefe dos publicanos. Portanto, um homem que por ambição, havia se desviado da senda da verdade, e sendo judeu, prestava lealdade ao César, recolhendo impostos de outros judeus. Era justamente acusado de traidor. No entanto, seu coração buscava reencontrar a verdade. Não seria recebido pela religião oficial, pois os fariseus o desprezavam como traidor.Os fariseus aplicavam a correta justiça...Mas Jesus aplicou a misericórdia.Jesus viu Zaqueu, tão ilustre autoridade, "pagando mico" subido em uma árvore para vê-lo. Ali, naquele gesto, Jesus enxergou um coração clamando por socorro e disse "Desce, Zaqueu, porque hoje me convém pousar em tua casa".Os fariseus murmuraram, e até hoje murmuram, contra esse bando de goyim impuros que seguem a este Jesus e dizem ser filhos de D-us.Zaqueu, diante de Jesus, experimentou a teshuvá, a transformação de caráter, e não achou pesado devolver tudo que havia furtado em vida, tamanha a alegria de reencontrar a salvação. Jesus trouxe a misericórdia de D-us para a vida de Zaqueu, como atestam suas palavras em Lucas 19.9: - "E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão".Enquanto serviu ao rei de Roma, o judeu Zaqueu só acumulou pecados. Zaqueu redescobriu sua herança no dia em que deixou o rei de Roma para servir ao Rei dos Judeus, Yeshua HaMaschiasch!