sábado, 19 de maio de 2007

O Poder da Graça...


(EF 2:8) - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.


A doutrina da Graça é o que há de mais central e distintivo no cristianismo bíblico. Não há, em nenhuma outra religião estruturada ao redor do planeta, nenhuma doutrina que lhe seja equivalente. Foi através da divulgação desta doutrina que a igreja primitiva experimentou um notável crescimento (Leia Atos 2.42), e justamente por isso, não é possivel entender verdadeiramente a mensagem de Jesus Cristo sem se debruçar sobre este ensino tão profundo quanto desconhecido, que constitui o centro da mensagem cristã em todo o Novo Testamento, do Evangelho de Mateus ao Apocalipse de João, o Evangelista.
A Graça, antes de tudo, é uma ruptura. O judaísmo antigo, como o dos dias atuais, era o depositário fiel da crença em um único Deus, vivo e verdadeiro. No entanto, na religião instituída por Moisés (honrado pelos judeus com o nome Moshé Rabeinu, que literalmente significa “Nosso mestre Moisés”), a vinculação entre Deus e os homens se fazia através de um acordo escrito, um pacto. A aliança mosaica, ou simplesmente “A Lei”, como era chamada na Bíblia. Ao contrário do que pensa o imaginário popular, esta lei está muito longe de se restringir apenas aos Dez Mandamentos. Os judeus ortodoxos calculam que existam 613 mitsvot – mandamentos, prescrições – estabelecidas na Lei de Moisés. A relação de Deus com o Homem, portanto, se fazia através de um conjunto de regras pré-estabelecidas, um verdadeiro código de ética e de moral. Embora ditadas pelo próprio Deus, não demorou muito para que estas regras passassem a ser utilizadas para justificar o poder de uma casta sacerdotal sobre o povo, exatamente como se fazia nas crenças pagãs dos outros povos. A religião que deveria se basear numa relação ética com o Deus vivo foi se deformando em um conjunto de regras que mais desunia do que promovia a concórdia entre os judeus.
O gesto de Jesus, ao morrer na cruz do Calvário, no entanto, inaugura uma nova forma de relacionamento entre Deus e seu povo, não por acaso chamada de Nova Aliança. A Lei de Moisés exigia sacrifícios de animais para apagar o pecado cometido por qualquer pessoa. Jesus, derramando sangue divino, consuma-se como o sacrifício perfeito, definitivo, remindo o pecador. Em suma: a graça acontece quando eu não posso pagar, e alguém paga por mim.
O entendimento desta doutrina é tão vital para o cristianismo que, toda vez que de alguma forma este ensinamento foi deixado de lado, a igreja cristã perdeu sua vitalidade bíblica. Muitos homens de Deus, tocados pela descoberta desta mensagem, como Savonarola, Zwingli, John Huss, pagaram com a própria vida a ousadia de difundir ao mundo essa mensagem libertadora. Foi preciso que Lutero se levantasse para restituir à igreja a mensagem de que a salvação não provém de obras de caridade, de bondade ou qualquer outra demonstração de esforço humano, mas é um Dom de Deus, que não pode sequer ser reivindicado por ninguém. Deus o concede liberalmente pela Graça, pela experiência viva do seu Filho que se fez carne, habitou entre nós, conheceu como é difícil ser um homem sujeito aos ataques do diabo e do pecado. Ele venceu a morte para que nós pudéssemos ter este maravilhoso direito.
Quando conhecemos o mistério da Graça, sabemos que nossa relação com Deus não depende de sermos bonzinhos ou mauzinhos, mas sim da Fé. aceitar que Jesus derramou seu sangue pelos nossos erros e crer que estamos livres do poder do pecado é o efeito que a Graça exerce sobre nós, trazendo certeza da Salvação e dependência completa de Deus, em quem deixamos de ser escravos dos nossos próprios desejos para sermos livres em Cristo.

Nenhum comentário: