domingo, 6 de maio de 2007

A Cultura da Vítima: uma realidade brasileira


"O Grito", de Munch: quem "grita", na verdade, é a realidade à volta... muito apropriado.
O fato que vou narrar é velho, Lula ainda era candidato à reeleição, mas falo dele por ainda considerá-lo um sinal típico dos tempos que estamos vivendo: Na primeira semana de agosto de 2005, em plena campanha do primeiro turno, os telejornais tiveram que render uns segundos de exibição à uma notícia que alguns simpatizantes da esquerda devem ter visto com algum constrangimento: No Espírito Santo, a Polícia estava investigando o envolvimento de uma pessoa “politicamente correta” nos episódios de queimas de ônibus por quadrilhas de ex-detentos: a ativista social Maria Aparecida Borges, militante da Pastoral Carcerária, uma ONG da Igreja Católica, foi acusada de ensinar a forma correta com que deveriam ser escritos os bilhetes a ser deixados nos ônibus atingidos. As gravações feitas pela polícia não deixam dúvidas de que a voz era da ongueira.

A imprensa não voltou a tratar do assunto nunca mais, mas não é disso que quero falar: Este lamentável episódio demonstra até onde alguns grupos “organizados” podem ir na sua simpatia pelo crime. A senhora Maria Aparecida, segundo a investigação policial, orienta os integrantes da quadrilha não apenas sobre como escrever, mas o que escrever. Orienta-os a dizer que a queima dos ônibus é um protesto contra as más condições dos presídios em que seus “irmãos” estão detidos. Inclusive sugere que, quando forem se apresentar diante de juízes ou das câmeras, estejam “bem sujos”, para passar a impressão de abandono completo pela sociedade.
Certamente, alguns dirão que esta ativista “extrapolou” suas atividades. Convivendo com os “encarcerados”, tomando-lhes as dores, achou que cooperar com uma ação criminosa de protesto poderia “sensibilizar” a sociedade “opressora”. Afinal de contas, segundo a boa dialética marxista, os meios ilegais são justificados pelos fins, ou seja, pela “causa”.
Tenho motivos para crer que esta cidadã acreditava piamente estar fazendo justiça. Achava que estava do “lado certo” ao municiar os subsídios intelectuais para as ações criminosas de seus “protegidos”, porque afinal de contas, eles são os “oprimidos”, os que não tiveram oportunidades. E nós, os “opressores”, que merecem ser violados em seus direitos, inclusive no de ir e vir – por isso a queima dos ônibus, como se a “elite” andasse de ônibus.
ONGs como a da dona Maria Aparecida, e grupos de orientação semelhante, são os principais incentivadores de uma certa “Cultura da Vítima” que permeia este país. Centenas de pessoas permanecem abaixo da linha da pobreza, odiando qualquer perspectiva de crescimento, porque são incentivadas a crer que a pobreza ou o atraso tenham, em si, algo de nobre ou redentor.
Diga-se, a bem da justiça, que este é um mal que não se restringe somente ao Brasil. O mundo todo é refém da suposta superioridade moral das auto-intutuladas vítimas que decidem optar pelo terror. O terror do PCC tem uma base humanitária: a falta de condições dos presídios paulistas. O terror praticado pelo MST tem outra alegação “politicamente correta”: a concentração de terras produtivas nas mãos do agronegócio. O terror do Hezzbollah contra Israel apresenta como alegação a ausência de uma pátria para o “povo” palestino. E, em nome destas causas “humanitárias”, se comete todo tipo de atropelo à lei, causando danos ainda maiores.
Em certo sentido, então, a senhora militante-ativista-quase-bandida é também uma “vítima”. Só que vítima de uma cultura que ela mesma contribui para disseminar no país, e por isso mesmo, ainda que saia impune, trata-se de uma vítima que não merece a menor piedade...

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