domingo, 20 de maio de 2007

Cristianofobia: um traço da pós-modernidade?


O pensamento contemporâneo da sociedade globalizada, a que se convencionou chamar “pós-modernidade”, padece de graves incoerências. Embora advogue o pluralismo, a tolerância, a diversidade e outros tantos jargões do universo politicamente correto, o pós-modernismo se revela bastante seletivo sobre os temas que aceita exercer sua tolerância, desnudando, por detrás de uma roupagem humanista e progressista, um caráter absolutamente totalitário. Um dos modos como esse grave acento de intolerância se manifesta, é na forma como o mundo contemporâneo aborda temas como a religião.
Apesar do progresso tecnológico extraordinário, o mundo pós-moderno tem manifestado um interesse agudo pelo transcendente, pela espiritualidade. No entanto, quando se fala de religião, normalmente o pensamento pós-moderno prefere buscar suas referências naquilo que chama de “crenças alternativas”. O próprio uso da palavra “alternativa” pressupõe excluir os valores da Bíblia e do Cristianismo, que por terem tido uma ligeira influência sobre a civilização atual, são associados sempre ao atraso e ao obscurantismo.
Uma outra forma de buscar depreciar o cristianismo é semear a idéia, hoje bastante difundida, de que todas as religiões são iguais ou equivalentes. Esta idéia, além de falsa, é perigosamente agressiva com o Cristianismo, pois se as outras religiões tem o mesmo valor, não haveria mal algum em abandonar a fé cristã em favor de uma crença mais exótica, e por isso mesmo, mais “moderna”, como quer o imaginário atual.
Desde o ataque das torres gêmeas, em setembro de 2001, a mídia não se cansa de referir ao mundo ocidental como “civilização judaico-cristã”. O uso desta expressão, por si mesmo, já constitui, em tese, uma vitória tática dos inimigos do cristianismo, pois trata-se de uma forma sutil de associar a fé cristã à decadência moral do mundo ocidental, que escandaliza o mundo islâmico.
Nada mais falso, entretanto, do que este “apelido”. A civilização atual, deturpada como está, pode ter muita dívida ideológica com Sócrates, Platão, Aristóteles e, mais recentemente, Freud, Darwin, Nietsche, Karl Marx e Jean-Paul Sartre, pais do antropocentrismo e do relativismo existencialista que prega o hedonismo, a satisfação individual acima de qualquer custo. A mensagem bíblica é bem diferente: prega a solidariedade, o amor ao próximo, uma vivência de fé calcada numa relação sólida de respeito ao outro.
Outra forma de desacreditar o cristianismo é associa-lo a tudo que se produziu de obscurantismo na história mundial. Historiadores moderninhos amam culpar o cristianismo pelas cruzadas, e amam usar o termo “medieval” quando se referem aos valores cristãos. Esquecem eles que o cristianismo produziu as primeiras universidades na Idade Média, tão desacreditada e rotulada pelos humanistas de hoje.
Os existencialistas da pós-modernidade amam atribuir ao iluminismo ateu todas as conquistas da civilização em favor do bem estar da raça humana. Esquecem-se, no entanto, que se existem hoje escolas públicas, isto se deve principalmente a um jornalista metodista chamado Robert Raikes, que em 1780 criou as Escolas Dominicais para educar os filhos de operários através da leitura da Bíblia, um método que mais tarde foi apropriado pelo Estado com o ensino público.
Se o fim da escravidão foi conquistado em todo o planeta, isto se deve principalmente à luta de um pregador protestante chamado John Newton e do cristão protestante Willian Wilberforce, abolicionista que lutou pelo fim da escravidão na Inglaterra. Suas propostas foram derrubadas oito vezes, mas quase ao fim da vida, conquistou a aprovação do Slavery Abolition Act. O primeiro missionário presbiteriano no Brasil, Ashbel Green Simonton, também lutou pela abolição dos nossos escravos.
O que a pós-modernidade faz força para ignorar é um fato que não se pode calar: por onde o Cristianismo passou, escolas foram abertas, povos deixaram de praticar o canibalismo, os direitos das mulheres foram reconhecidos, o ensino para as crianças foi valorizado e muitas outras conquistas humanizaram o planeta. Hoje, tenta-se apagar pura e simplesmente a influência do cristianismo através de uma insistente propaganda negativa, que precisa falsear a realidade para atingir seus objetivos. No entanto, os que depositam com firmeza sua fé no Evangelho de Jesus Cristo continuarão tendo motivos para se orgulhar de seus efeitos: famílias restauradas, vidas transformadas, seres humanos melhores.
Este é o maior milagre da fé cristã.

sábado, 19 de maio de 2007

O Poder da Graça...


(EF 2:8) - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.


A doutrina da Graça é o que há de mais central e distintivo no cristianismo bíblico. Não há, em nenhuma outra religião estruturada ao redor do planeta, nenhuma doutrina que lhe seja equivalente. Foi através da divulgação desta doutrina que a igreja primitiva experimentou um notável crescimento (Leia Atos 2.42), e justamente por isso, não é possivel entender verdadeiramente a mensagem de Jesus Cristo sem se debruçar sobre este ensino tão profundo quanto desconhecido, que constitui o centro da mensagem cristã em todo o Novo Testamento, do Evangelho de Mateus ao Apocalipse de João, o Evangelista.
A Graça, antes de tudo, é uma ruptura. O judaísmo antigo, como o dos dias atuais, era o depositário fiel da crença em um único Deus, vivo e verdadeiro. No entanto, na religião instituída por Moisés (honrado pelos judeus com o nome Moshé Rabeinu, que literalmente significa “Nosso mestre Moisés”), a vinculação entre Deus e os homens se fazia através de um acordo escrito, um pacto. A aliança mosaica, ou simplesmente “A Lei”, como era chamada na Bíblia. Ao contrário do que pensa o imaginário popular, esta lei está muito longe de se restringir apenas aos Dez Mandamentos. Os judeus ortodoxos calculam que existam 613 mitsvot – mandamentos, prescrições – estabelecidas na Lei de Moisés. A relação de Deus com o Homem, portanto, se fazia através de um conjunto de regras pré-estabelecidas, um verdadeiro código de ética e de moral. Embora ditadas pelo próprio Deus, não demorou muito para que estas regras passassem a ser utilizadas para justificar o poder de uma casta sacerdotal sobre o povo, exatamente como se fazia nas crenças pagãs dos outros povos. A religião que deveria se basear numa relação ética com o Deus vivo foi se deformando em um conjunto de regras que mais desunia do que promovia a concórdia entre os judeus.
O gesto de Jesus, ao morrer na cruz do Calvário, no entanto, inaugura uma nova forma de relacionamento entre Deus e seu povo, não por acaso chamada de Nova Aliança. A Lei de Moisés exigia sacrifícios de animais para apagar o pecado cometido por qualquer pessoa. Jesus, derramando sangue divino, consuma-se como o sacrifício perfeito, definitivo, remindo o pecador. Em suma: a graça acontece quando eu não posso pagar, e alguém paga por mim.
O entendimento desta doutrina é tão vital para o cristianismo que, toda vez que de alguma forma este ensinamento foi deixado de lado, a igreja cristã perdeu sua vitalidade bíblica. Muitos homens de Deus, tocados pela descoberta desta mensagem, como Savonarola, Zwingli, John Huss, pagaram com a própria vida a ousadia de difundir ao mundo essa mensagem libertadora. Foi preciso que Lutero se levantasse para restituir à igreja a mensagem de que a salvação não provém de obras de caridade, de bondade ou qualquer outra demonstração de esforço humano, mas é um Dom de Deus, que não pode sequer ser reivindicado por ninguém. Deus o concede liberalmente pela Graça, pela experiência viva do seu Filho que se fez carne, habitou entre nós, conheceu como é difícil ser um homem sujeito aos ataques do diabo e do pecado. Ele venceu a morte para que nós pudéssemos ter este maravilhoso direito.
Quando conhecemos o mistério da Graça, sabemos que nossa relação com Deus não depende de sermos bonzinhos ou mauzinhos, mas sim da Fé. aceitar que Jesus derramou seu sangue pelos nossos erros e crer que estamos livres do poder do pecado é o efeito que a Graça exerce sobre nós, trazendo certeza da Salvação e dependência completa de Deus, em quem deixamos de ser escravos dos nossos próprios desejos para sermos livres em Cristo.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Mangabeira Unger...para nunca mais esquecer!

Na foto, Lula com Roberto Mangabeira Unger, aquele que o chamou de corrupto. Estão rindo muito... deve ser de nós.

O texto abaixo foi publicado pelo cientista político Roberto Mangabeira Unger na Folha de São Paulo de 15 de novembro de 2005, ano dos escândalos do mensalão. Neste ano de 2007, este mesmo senhor aceitou convite para integrar o ministério de Lula, à frente de uma estrovenga chamada Ministério das Ações de Longo Prazo. O que faz este senhor na equipe de um governante que já classificou como "o mais corrupto da história", ninguém sabe. Aliás, será que ele irá dizer a frase que sempre tentaram atribuir erroneamente a FHC: "Esqueçam o que eu escrevi"? Como confiar o ministério das "Ações de Longo Prazo" a alguém cujo texto não sobreviveu a apenas um ano e meio?


Bem, republico para que nunca mais se esqueça. Você, caro internauta, faça seu julgamento...


Pôr fim ao governo Lula

"Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas. Imiscuiu-se, e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas e negócios privados. E comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de recursos orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos.Afirmo que a aproximação do fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do presidencialismo e não leva a Constituição a sério.Afirmo que descumpririam seu juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os mandatários que, em nome de lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu impedimento. No regime republicano a lealdade às leis se sobrepõe à lealdade aos homens.Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou.Afirmo que a oposição praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes e aderentes ao mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro que sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas.Afirmo que as bases sociais do governo Lula são os rentistas, a quem se transferem os recursos pilhados do trabalho e da produção, e os desesperados, de quem se aproveitam, cruelmente, a subjugação econômica e a desinformação política. E que seu inimigo principal são as classes médias, de cuja capacidade para esclarecer a massa popular depende, mais do que nunca, o futuro da República.Afirmo que a repetição perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, nos corações dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga intocável e perpétuo.Afirmo que, nesse 15 de novembro, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de presidir as comemorações da proclamação da República aos que corromperam e esvaziaram as instituições republicanas"

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Por que não sou mais socialista

Este artigo é um desabafo. Faço esse alerta para aqueles que, como eu, não são assim muito fãs de textos em primeira pessoa. Sempre procuro escrever baseado no princípio de que existem assuntos muito mais relevantes do que minha própria vida, que, aliás, não diz respeito a mais ninguém. No entanto, como volta e meia sou cobrado por amigos sobre os meus posicionamentos atuais, algumas vezes até com alguma agressividade, resolvi tentar escrever, de forma ordenada, o que me levou a uma mudança tão brusca de pensamento nos últimos anos. Partidos, quando mudam de posição ao longo da história, revisam seus dogmas, elaboram documentos, para dar alguma densidade à sua mudança. Talvez eu esteja devendo a mim mesmo um manifesto mais elaborado sobre minhas convicções.
Durante toda a minha vida, fui socialista. Aprendi a desejar um mundo igualitário vendo a caminhada ética construída por meu pai, um vereador do velho MDB numa cidade com uma elite violentamente adesista, e isso em pleno regime de exceção. Aprendi com ele a amar o nacionalismo, a acreditar no potencial do Brasil para desenvolver suas próprias riquezas. Mas acima de tudo, aprendi a acreditar que a esquerda poderia ser a redenção saneadora e ética do país, varrendo a corrupção que tanto caracterizou o regime militar. Ah, é bom detalhar: meu pai era brizolista ferrenho, tinha pertencido à ala moça do extinto PTB antes de fazer carreira no MDB, e quando Brizola voltou do exílio, fez parte da fundação do PDT.
O socialismo, portanto, sempre foi em minha vida, um caminho natural. Ainda hoje, boa parte dos meus parentes é filiado a partidos como PT, P-Sol e outros do gênero. Meu pai encarava o PT e seu anarco-sindicalismo pelas lentes de Darcy Ribeiro, que dizia: “o PT é a esquerda que a direita gosta”. Brizola era ainda mais ferrenho ao dizer que o PT era “a UDN de macacão”. Embora profundamente distantes do ponto de vista doutrinário, UDN e PT se complementavam no quesito ético, na capacidade de destruir reputações adversárias.
Mas essa já é uma digressão. Volto ao ponto. Certo de que a esquerda era a única força política capaz de promover um saneamento ético no país, sempre apostei nela nas minhas escolhas. Acreditei, por muitos anos, no discurso autoritário que colocava “eles” (a direita) como os vendidos, os corruptos, os destruidores da soberania nacional, e “nós” (a esquerda) como os puros, os santos, os incorruptíveis. Esta característica autoritária está nos genes da esquerda desde Robespierre (aquele que mandava decapitar desafetos após a Revolução Francesa) e Marx (que conseguiu sobrepujar todas as outras vertentes de socialismo anteriores a ele, com uma propaganda altamente depreciativa, afirmando que apenas o seu pensamento era “científico”, e portanto, racional).
Acreditei que Lula, no primeiro mandato, teria as condições necessárias para promover um saneamento ético. No entanto, já na formação de sua aliança, fez par com o PL, depois de anos atacando FHC por ter se aliado aos “neoliberais” do PFL. Durante quase todo um mandato, as alianças espúrias com segmentos do coronelismo mais retrógrado foram sendo justificadas ou relativizadas, uma a uma, pelos “companheiros”. Era um tal de elogiar Sarney, Jader Barbalho, e outras figuras inacreditáveis.
Acordei finalmente para a grande mentira que a esquerda pregou no Brasil durante anos graças ao personagem Roberto Jefferson, a quem Olívio Dutra chamou de “má companhia”. Pois é, mas no segundo turno, a despeito de tudo o que foi dito, o candidato Lula fez questão de, mais uma vez, caminhar ao lado do PTB de Jéferson, um claro sinal de que o presidente fez muito bem suas escolhas.
Esta crise revelou o despudor de uma esquerda que, não contente em montar o maior esquema de corrupção da história da República (segundo as palavras do hoje ministro Roberto Mangabeira Unger). José Dirceu, Delúbio Soares, Marcus Valério...passados quase dois anos, hoje a esquerda, o PT, o presidente, a oposição, a imprensa, todo o país, enfim, se comportam como se nada de sério tivesse acontecido. O PT, tão ético e sério que é, até mesmo está correndo uma listinha em favor da anistia de José Dirceu. Notem bem: o termo “anistia” não é uma escolha acidental. Trata-se de equipará-lo aos perseguidos do regime militar, como se pudesse haver comparação entre resistir a um regime antidemocrático e montar uma quadrilha para saquear a nação.
É esta desfaçatez que não me convence mais. O partido da indignada Heloísa Helena, tendo a opção por desmoralizar completamente este esquema no segundo turno, declarou apoio a Lula. O PDT de Cristóvam Buarque, que até tentou se apresentar como alternativa de esquerda ética, agora integra o governo que combateu. O que Brizola diria...
As utopias passadistas corroeram a moral e o ânimo da maioria da nação, que ao invés de lutar por uma limpeza ética, resolveu apostar na continuidade do Bolsa-Esmola, nada mais do que um suborno de suas próprias consciências. Enquanto isso, as instituições democráticas são lentamente corroídas, o projeto autoritário avança, e a liberdade, esta senhora que nos torna desiguais, vai sendo solertemente esvaída...Mudei? Provavelmente. Mas mudei para continuar o mesmo, acreditando na prevalência da lei e de um regime democrático sólido, substantivo, para promover justiça e eqüidade no país. Bem, e se alguém me chamar de “direita”, imaginando me ofender? Bem, fico com a frase de Fernando Gabeira, alguém cujo pensamento antieclesial não me entusiasma nem um pouco, mas que certamente merece meu respeito ético: “Já que aprendemos finalmente que a esquerda não é o bem absoluto, devemos então reconhecer que a direita não é o mal absoluto”.

domingo, 6 de maio de 2007

FUNDEB - O novo Fundo da Empulhação Básica...

Foi aprovado no Congresso Nacional, depois de anos de gestação, o assim chamado Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, criado pelo governo Lula para substituir o Fundo do Desenvolvimento do Ensino Fundamental – FUNDEF. A notícia foi saudada com pompa pela grande imprensa, até porque durante os meses em que este projeto dormitou em berço esplêndido na pauta do Congresso, muitas reportagens laudatórias anunciaram esta medida como uma importante conquista para a Educação. Como não houve um político sequer com coragem suficiente para contestar uma medida considerada popular, o Fundeb foi e continua sendo recebido como uma unânime vitória. Mas, como já disse o escritor: “Quando todos estão pensando a mesma coisa, ninguém está de fato pensando”.
O Fundeb, vendido como uma redenção para a Educação Infantil e o Ensino Médio, constituem na verdade em um grande embuste, pois agora, o repasse que era destinado a Escolas Fundamentais e que teve grande impacto na melhoria da qualidade do ensino e da remuneração dos professores na maioria dos municípios brasileiros, agora será distribuído para atender também os gastos das escolas de Educação Infantil e de Ensino Médio. Ainda que o projeto preveja um aumento dos recursos, este aumento não será significativo na comparação com os gastos novos que serão incluídos à despesa dos municípios, que continuarão gestores dos recursos. Todo dirigente de Educação sabe que os gastos globais do Ensino Médio são muito superiores ao do Ensino Fundamental. Pois bem, estes gastos agora, serão responsabilidades dos municípios, e surpreendentemente, não houve um prefeito, um secretário de educação, que viesse a público perante a imprensa denunciar este engodo.
O FUNDEB institui uma municipalização branca dos gastos do Ensino Médio, hoje sob supervisão dos governos estaduais. Não por acaso, os governadores aplaudiram a atuação de suas bancadas federais, aprovando o novo fundo que, na prática, desonera o Estado do cumprimento de uma obrigação constitucional como ente federativo. Mais uma responsabilidade nas costas dos municípios, cujos gestores já atuam dentro de uma camisa-de-força jurídica, que engessa as iniciativas administrativas. Hoje, quem realmente administra a maioria dos municípios brasileiros é o Ministério Público, que determina o que deve e o que não deve ser feito.
Agora, com o Fundeb, mais uma carga se acumula. E os prefeitos, que não berraram antes, não podem mais berrar.

A Cultura da Vítima: uma realidade brasileira


"O Grito", de Munch: quem "grita", na verdade, é a realidade à volta... muito apropriado.
O fato que vou narrar é velho, Lula ainda era candidato à reeleição, mas falo dele por ainda considerá-lo um sinal típico dos tempos que estamos vivendo: Na primeira semana de agosto de 2005, em plena campanha do primeiro turno, os telejornais tiveram que render uns segundos de exibição à uma notícia que alguns simpatizantes da esquerda devem ter visto com algum constrangimento: No Espírito Santo, a Polícia estava investigando o envolvimento de uma pessoa “politicamente correta” nos episódios de queimas de ônibus por quadrilhas de ex-detentos: a ativista social Maria Aparecida Borges, militante da Pastoral Carcerária, uma ONG da Igreja Católica, foi acusada de ensinar a forma correta com que deveriam ser escritos os bilhetes a ser deixados nos ônibus atingidos. As gravações feitas pela polícia não deixam dúvidas de que a voz era da ongueira.

A imprensa não voltou a tratar do assunto nunca mais, mas não é disso que quero falar: Este lamentável episódio demonstra até onde alguns grupos “organizados” podem ir na sua simpatia pelo crime. A senhora Maria Aparecida, segundo a investigação policial, orienta os integrantes da quadrilha não apenas sobre como escrever, mas o que escrever. Orienta-os a dizer que a queima dos ônibus é um protesto contra as más condições dos presídios em que seus “irmãos” estão detidos. Inclusive sugere que, quando forem se apresentar diante de juízes ou das câmeras, estejam “bem sujos”, para passar a impressão de abandono completo pela sociedade.
Certamente, alguns dirão que esta ativista “extrapolou” suas atividades. Convivendo com os “encarcerados”, tomando-lhes as dores, achou que cooperar com uma ação criminosa de protesto poderia “sensibilizar” a sociedade “opressora”. Afinal de contas, segundo a boa dialética marxista, os meios ilegais são justificados pelos fins, ou seja, pela “causa”.
Tenho motivos para crer que esta cidadã acreditava piamente estar fazendo justiça. Achava que estava do “lado certo” ao municiar os subsídios intelectuais para as ações criminosas de seus “protegidos”, porque afinal de contas, eles são os “oprimidos”, os que não tiveram oportunidades. E nós, os “opressores”, que merecem ser violados em seus direitos, inclusive no de ir e vir – por isso a queima dos ônibus, como se a “elite” andasse de ônibus.
ONGs como a da dona Maria Aparecida, e grupos de orientação semelhante, são os principais incentivadores de uma certa “Cultura da Vítima” que permeia este país. Centenas de pessoas permanecem abaixo da linha da pobreza, odiando qualquer perspectiva de crescimento, porque são incentivadas a crer que a pobreza ou o atraso tenham, em si, algo de nobre ou redentor.
Diga-se, a bem da justiça, que este é um mal que não se restringe somente ao Brasil. O mundo todo é refém da suposta superioridade moral das auto-intutuladas vítimas que decidem optar pelo terror. O terror do PCC tem uma base humanitária: a falta de condições dos presídios paulistas. O terror praticado pelo MST tem outra alegação “politicamente correta”: a concentração de terras produtivas nas mãos do agronegócio. O terror do Hezzbollah contra Israel apresenta como alegação a ausência de uma pátria para o “povo” palestino. E, em nome destas causas “humanitárias”, se comete todo tipo de atropelo à lei, causando danos ainda maiores.
Em certo sentido, então, a senhora militante-ativista-quase-bandida é também uma “vítima”. Só que vítima de uma cultura que ela mesma contribui para disseminar no país, e por isso mesmo, ainda que saia impune, trata-se de uma vítima que não merece a menor piedade...