terça-feira, 20 de março de 2007

A Política acabou...


Faz algum tempo, mas não tanto assim. Um tempo depois de o muro de Berlim soçobrar de vez, levando consigo os destroços da antiga União Soviética, um acadêmico sino-americano chamado Francis Fukuyama publicou um estudo chamado “O Fim da História”, o qual caiu como um chute no estômago já combalido do socialismo. Para Fukuyama, a previsão marxista sobre um inevitável triunfo histórico do comunismo não se confirmou, e o capitalismo venceu. A “História”, aqui entendida segundo os moldes do marxismo, acabou.
Não estou aqui revisitando Fukuyama para opinar se ele estava certo ou errado. Ando apenas pensando que talvez, se ele morasse no Brasil, hoje estaria escrevendo um ensaio com o nome “O Fim da Política”. E o governo Lula estaria aí para render-lhe todos os argumentos necessários.
É claro que estou falando da Política ciência, da política como instrumento de gestão do Estado em favor do bem comum, com a subdivisão de poderes, e até mesmo com os equívocos inerentes ao processo político. Política como o espaço privilegiado da discussão pública, do debate, com o direito à livre expressão da oposição e da sociedade civil.
Isto, no Brasil, não existe mais. A crise que quase nocauteou o governo há dois anos atrás, com Roberto Jefferson, Marcos Valério e José Dirceu à frente do palco, poderia ter sido o fim da era das utopias regressistas e o ingresso do país no mundo da realidade informada. No entanto, como todos sabem, não foi isto que aconteceu. E não me refiro ao fato de Lula ter vencido. Isto poderia acontecer sem problemas, desde que os instrumentos do Estado continuassem funcionando para sanear o país, como acontece em qualquer regime onde haja política com “P” maiúsculo.
Entretanto, após a vitória de Lula, a sociedade, os deputados, os senadores, a mídia, todos, enfim, se comportam como o presidente na época de sua candidatura: não falam mais nada, não sabem de nada, não viram nada. O assunto morreu, como se não tivesse havido uma crise sem precedentes nas entranhas da República, soterrando a credibilidade das instituições. Executivo, Legislativo, Partidos, Oposição...
Peraí: que oposição? Praticamente nenhum partido quer mais exercer essa missão. O PMDB acaba de anunciar seu preço: conquistou cinco ministérios em troca de boicotar a CPI do Tráfego Aéreo e esclarecer sobre as mortes do vôo da Gol, lembram? O presidente do PDT anunciou a adesão ao governo em troca de um ministério para si mesmo, tendo ao fundo o retrato de Brizola, sem qualquer respeito por sua memória. O PSDB, que de vez em quando lembra que é oposição, conseguiu fazer de tudo para perder uma eleição ganha e conquistar a irrelevância...
A Política acabou. O último a sair, apague a luz...