quinta-feira, 12 de julho de 2007

A nova polêmica de Ratzinger e uma carta a Reinaldo Azevedo


Ratzinger, o famigerado Prefeito do Santo Ofício, não cansa de enviar sinais ao mundo sobre qual é seu modelo predileto de Igreja: a Igreja da Contra-Reforma, que reagia com fúria às dissidências do protestantismo. Tanto melhor, pelo menos acaba com as falsas ilusões semeadas pelo ecumenismo de seu predecessor, Karol Wojtyla, um papa com muito mais talento político que o atual, mas que bebia da fonte teológica do vasto conhecimento de seu então fiel escudeiro, o próprio Ratzinger.
Acaba de sair uma bula em que Sua Santidade Mefistofélica declara solenemente que a Igreja Católica é a "Única e Verdadeira Igreja de Cristo". Pelo menos, está sendo coerente com os séculos de intolerância sangrenta que perfazem a história do Romanismo.

O jornalista Reinaldo Azevedo, um dos mais brilhantes analistas contemporâneos do país, escreveu, em defesa do papa, um comentário em seu blog, o qual reproduzimos em vermelho:

"Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão, filho de João: porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.E eu te darei as chaves do reino dos céus. E tudo o que ligares, pois, na terra será ligado também nos céus, e o que desatares sobre a terra será desatado nos céus.(Mateus 16, 17-20)
*E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.Ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.Ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e estais certos de que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.(Mateus 28, 18-20)*
“Tenho também outras ovelhas que não deste aprisco, e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um aprisco e um pastor”(João 10, 16)
Não estou transcrevendo isso para convencer os não-católicos. Os próprios católicos, creio, devem se convencer disso a cada dia, enfrentando os múltiplos apelos da descrença sedutora. A questão é outra: ou a hierarquia católica, de que o papa é o líder máximo, acredita nisso — e, pois, suas cinco resposta disseram o óbvio — ou não acredita. A Igreja, deve crer um católico, é aquela fundada por Cristo e entregue a Pedro. A missa e os sacramentos foram instituídos por Ele como caminhos da santificação. Cristo estará com os membros de sua Igreja, seu corpo místico, até o fim dos tempos. Ela é:- única e una (aquela de Pedro);- santa (já que extensão do Cristo);- católica (vale dizer: universal) porque feita para todos os homens;- apostólica: fundada nas verdades reveladas aos apóstolos e seus sucessores.Você é obrigado a acreditar nisso? Felizmente, não. Mas um católico é. A Igreja revelada pelo Cristo, para quem professa essa fé, é aquela que deriva de Pedro. Leonardo Boff, no livro Igreja, Carisma e Poder, sugere que outras denominações possam guardar essa verdade revelada. Tudo bem — desde que ele abra mão de ser um teólogo católico. Não me consta que se considere uma violência que o protestantismo rejeite o culto a Maria. Ninguém é forçado a pertencer ao corpo da Igreja Católica. Feita tal escolha, não pode ambicionar destruir os princípios que a organizam, incluindo a hierarquia, que, nessa perspectiva, não é uma imposição extemporânea, mas o desdobramento de uma revelação.De novo, trata-se de uma questão de lógica. E daquele tipo escandalosamente elementar.

Enviei a seu blog uma resposta, que reproduzo em azul:

Prezado Reinaldo Azevedo:
Tenho lido com atenção vossas observações sobre o manifesto em que a Igreja Católica reafirma sua convicção de ser a única e verdadeira Igreja de Cristo. Natural, de fato, que a Igreja Católica tenha este pensamento. Daí a pensar que esta afirmação (nada mais do que uma construção teológica), tenha embasamento bíblico ou histórico, é um pouco de exagero. Não lhe culpo, pois essa licença poética com a História vem sendo ensinada pelo romanismo há séculos, contra a verdade histórica e o raciocínio bíblico.Em seu favor, a Igreja sempre evoca a afirmação de Cristo no Evangelho de Mateus:"Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja".Sei que o senhor não desconhece o fato de que o Novo Testamento foi escrito originalmente em grego demótico, língua adotada pelos judeus na dispersão. No original, há duas palavras: Petrus (Pedro) e Petra (pedra). O significado semântico de "Petrus" seria algom como "pedregulho", ou "pedrinha". "Petra", no entanto, significa "a rocha". Logicamente, o texto nos apresenta que se está falando de duas coisas distintas. Pedro é uma pequena pedra, e existe a grande Pedra, a verdadeira rocha sobre a qual está alicerçada a igreja cristã em toda a face da terra: Jesus Cristo. Aliás, é o próprio Pedro quem nos fala, clarificando o sentido verdadeiro desta polêmica:"E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, Vòs também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdòcio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura se contém:'Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa;e quem nela crer não será confundido'. E assim para vòs, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes,a pedra que os edificadores reprovaram,essa foi a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo,para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.
O conceito de "Igreja" usado pelo catolicismo para excluir os demais ramos do cristianismo de sua visão, é o da Igreja como instituição. No entanto, o conceito bíblico de "eclesia" não é humano, e sim espiritual. O "Corpo de Cristo" é formado pelos crentes fiéis em toda a Terra, que tem comunhão com o cristianismo nascido em Jerusalém, não em Roma.A sucessão apostólica em Pedro é também uma falácia histórica. O papado sequer existia antes da "conversão" do Imperador Constantino, em 313 d.C. A palavra "papa" designava qualquer bispo, que é pastor e "pai" de seu respectivo rebanho. Seu sentido histórico foi fundamentado muito mais tarde, na rica construção teológica que o tornou sucessor de Pedro, o Apóstolo.Há uma passagem nos Evangelhos de Marcos e Lucas que, se fosse relida pelo brilhante teólogo Ratzinger, talvez lhe trouxesse um melhor entendimento da questão da tolerância dos demais ramos do cristianismo. Esta lá, em Marcos 9.38-40:
"E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós, é por nós."span style="color:#3366ff;">

Abraços fraternos,

CLÁUDIO MOREIRASão Gabriel - RS

P.S: A sua citação de João 10:16 está fora de contexto hermenêutico. Quando fala em "outro aprisco", Jesus não poderia estar falando de outras denominações, que não existiam. Seu "aprisco original" é o povo judeu, as ovelhas do "outro aprisco" somos nós, os gentios.

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