
“Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gen 12:1).
Abraão é, de fato, um dos personagens mais impressionantes não somente da Bíblia Sagrada, mas de toda a história da civilização humana. Conta a Bíblia que, depois de ouvir a voz de Deus, Abraão saiu de sua terra, em Ur da Caldéia, por volta de uns 4500 anos antes de Cristo, e sem saber direito para onde ia, iniciou uma peregrinação rumo à Terra de Canaã, que séculos mais tarde, foi dada por herança divina a seus descendentes, os hebreus. Abraão é saudado não somente como pai de uma linhagem com séculos e séculos de tradição, mas por sua capacidade de seguir ao chamado de Deus mesmo sem entender muito bem o que estava acontecendo, ele é justamente reconhecido como “O Pai da Fé”.
Um judeu, não importa se for asquenazita, sefardita, ortodoxo, conservador, hassídico ou liberal, sempre reconhecerá Abraão como o grande Pai da Fé. Um cristão, seja ele católico, protestante, evangélico, pentecostal ou batista, sabe também que Abraão é o Pai da Fé. Um muçulmano, seja ele xiita, sunita, dervixe ou de qualquer outro ramo maometano, também lembra-se de Abraão (ou Ibrahim, segundo a pronúncia árabe) como o Pai da Fé. A ousadia espiritual de um homem que decidiu “se mexer”, tornou-o pai não somente de uma linhagem física, mas também o pioneiro da fé em um único Deus. Todas as crenças monoteístas, separadas entre si por tão grandes controvérsias, reconhecem uma herança comum na figura de Abraão.
Penso que Abraão foi assim tão grandioso porque ele entendeu a verdadeira essência da fé em Deus. Antes de entendermos o que é a Fé, precisamos entender o que ela não é. E, embora essa afirmação possa chocar muitas pessoas, a verdade é que a fé não é, de forma alguma, um processo passivo. Crer em Deus é muito mais do que uma simples compreensão intelectual da existência de um ser superior, muito mais do que admitir mentalmente que um Deus existe. A verdadeira fé é um processo ativo, ou seja, uma disposição que nos faz assumir, em todas as atitudes que tomamos na vida, uma dimensão de encorajamento espiritual.
Abraão não fazia a menor idéia de onde deveria ir. A voz de Deus lhe disse apenas: “Sai da tua Terra e vai para o lugar que te mostrarei”. Mais ou menos como quem diz: “Sai daí, que depois eu te digo o que fazer”. E, mesmo sem nunca ter ouvido antes a voz daquele Deus que de repente lhe dava aquela ordem, ele foi. Numa era em que todos desejam respostas claras e objetivas para todos os desafios, Abraão certamente seria chamado de louco. E, de fato, muitos homens de fé, antes e depois dele, foram chamados assim.
Deus fez um convite a Abraão: “mexa-se”. O mesmo convite Ele nos faz hoje. As coisas estão difíceis, sem perspectiva? Ou todos os desafios foram alcançados, e não há mais sonhos pra sonhar? Mexa-se! Deus não nos quer acomodados. Deus nos quer no campo de batalha, criando, motivando, agindo, trabalhando. Isto sim, é agir com verdadeira Fé: não deixar nunca de fazer a sua parte, crendo que Deus é poderoso para fazer também a dEle.
Martinho Lutero, o Grande Reformador, deixou um importante legado nesta afirmação: “Não conheço muito bem o caminho pelo qual estou sendo guiado, mas conheço muito bem o meu Guia”. Está indeciso? Não tem ainda uma idéia clara de onde isso tudo vai dar? Creia em Deus. Ele está no controle, e não deixará que você seja abatido. Apenas continue.
Deus te abençoe.