quarta-feira, 12 de março de 2008

Letícia Sabatella e a doce utopia do atraso


Já faz algum tempo que li, nas minhas incursões quase diárias pela maior revistaria da minha cidade, uma entrevista nas páginas amarelas da Revista Isto É. Como cliente antigo, meu péssimo de folhear as revistas acaba sendo tolerado pelos donos da revistaria. A entrevista a que me refiro foi com a atriz Letícia Sabatella, que ultimamente tem se tornado mais célebre por emprestar a belíssima imagem para causas de esquerda. Não por acaso, Letícia Sabatella é hoje a mais séria candidata a musa das esquerdas brasileiras, posto que já foi de Marieta Severo, no tempo em que era casada com Chico Buarque. Camila Pitanga, na década de 90, envergou também o título. Mas de todas estas celebridades, Sabatella é, disparado, a que tem sido tratada com mais mimo pela mídia. Quanto mais radical a esquerdopatia de uma celebridade, mais paparicada ela é.
Na entrevista, a valente narrava um pouco de sua recente militância contra a transposição do Rio São Francisco, vestindo (literalmente) a camiseta do frei que fez greve de fome. Por conta do episódio, protagonizou um bate-boca com o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que não percebeu que, contra uma celebridade popular, sempre sairia perdendo. Logo ele, casado com Patrícia Pillar. Mas até aí, tudo bem. Cada um tem o direito de lutar pelas causas que acha justo, e o direito de ser enganado é inalienável.
O trecho da entrevista que simplesmente me impressionou foi quando a repórter, embevecida pela aura quase messiânica da atriz-militante, indagou sobre a postura adotada há diversos anos, de não aceitar participação em comerciais. Aproveitando a deixa, a bela discorreu sobre a “coerência” de sua decisão, pois não poderia emprestar seu trabalho para publicidade pura e simples, pois publicidade é venda, e venda gera lucro, e lucro...bem, vocês sabem. O lucro é o mal, a grande praga da humanidade, o próprio satã em notas verdes. Ou azuis, se o salário da atriz vier em notas de cem.
Não, meu prezado leitor, você não entendeu mal. Não se trata de se recusar a fazer comerciais de cerveja, cigarros, ou qualquer coisa do gênero. A atriz não aceita fazer NENHUM comercial, nem de sabonete. Para ela, como para todos os pterodáctilos do esquerdismo brasileiro, o comércio, que simplesmente construiu a trajetória da civilização, é um mal. A bela atriz global simplesmente não aceita a hipótese da existência de empresários honestos, que vendam seus produtos por acreditar na nobreza de sua profissão. Para ela, TODO empresário é um assassino em potencial, simplesmente por que sua atividade gera... lucro!
E o pior é que este tipo de postura é saudada como gesto de coerência, como se a simples sinceridade com que se crê em algo possa ser tomada como verdade absoluta. Lamento se a atriz é coerente com o que acredita, pois o que ela acredita é simplesmente detestável. A destruição completa do capital serve a quem? Aos capitalistas do capital alheio que hoje grassam pela República? Sabatella não empresta seu rosto para a venda de um sabonete ou de um jogo de talheres, mas veste a camiseta do MST, uma organização que mata, que invade propriedades e destrói laboratórios de pesquisa.
Sabatella não está sozinha na insanidade. Na campanha eleitoral de 2006, Heloísa Helena, candidata do P-Sol à presidência, encheu a boca com orgulho para afirmar que sua campanha não aceitaria doações de empresários. No mesmo ano, partidos do seu campo ideológico foram investigados sob a suspeita de receber doações das Farc. Mas aí pode, não é?
Olívio Dutra, ainda no governo do Rio Grande do Sul, ao se empolgar em um jantar da Fiergs, regado a bom vinho e outros luxos que esquerdistas apreciam muito, lascou que jamais seria empresário, pois não se sentiria bem com sua consciência administrando uma empresa que desse lucro. Mas pelo visto, sua consciência não ficou nem um pouco abalada em administrar um Estado que deu prejuízo.
Eis a verdadeira natureza de uma parcela do espectro político nacional que, apenas por cálculo e tática, finge uma convivência pacífica com o capital e com o Estado de Direito. O mundo ideal dessa gente continua sendo o sonho de Russeau e Franz Fanon: a ilusão bucólica e regressista do retorno às cavernas.
Que pena...

3 comentários:

alex disse...

Eu gostei do tema do texto, mas achei que dizer que a idéia de Russeau era de que o ser humano deveria "...regressar às cavernas" foi um tanto equivocado. Russeau realmente pensava na propriedade privada como um dos grandes fatores para degradação da civilização moderna, mas seu pensamento foi de se manter um equilíbrio e (..."voltar à pura natureza de seu próprio ser humano, contaminado pelas misérias da civilização") o que é deveras diferente. falows

http://blogdospiratasbr.blogspot.com/

D'AUMON disse...

Odeio tudo relacionado a política, mas, não a política, é que as ideologias são aceitáveis, mas quem ´põe em prática são homens, seres humanos, ai vira essa merda que a gente vive...
mas, em todo caso, não apoio militantes esquerdistas... acho que só mais uma forma de marketing pessoal, ou de querer ir contra... talvez, políticos de esquerda ainda tenham suas razões agora pessoas comuns?!
E bem, deixar de fazer comercia por que é contra o lucro é muita hipocrisia dela, afinal são desses comercias que saem o dinheiro dagrobo pra pagar ela... oO

mas fazer o que?! acho que de uns tempos pra cá, tenho deixado de me indgnar com todo esse circo que eu vejo... infelismente tenho só 19 anos, mas o brilho de "eu vou conquistar o mundo" já sumiu dos meus olhos, e como diz uma colega minha: se nem militantes, partidos e grupos, conseguem mudar o mundo, eu classe inferior, 19 anos, sem ensino superior, desempregado, morador do suburbio do interior do RJ, vou conseguir mudar o mundo... =/
Abração!

atenciosamente: zero

http://zero.blog.terra.com.br

Unknown disse...

A sua posição a respeito do Mst é no mínimo questionável,já a sua posição sobre a esquerda tem até certo sentido mas carece de um aprofundamento teórico, pois há uma esquerda retrógrada e uma esquerda progressista. Eu te e aconselharia aleitura do livro pedagogia do oprimido de Paulo Freire. Depois de lê-lo e refletir sobre o exposto, não creio que achará que a leticia é radical. Mas o seu artigo é bom (um pouco direitista de mais). Abraço.