quarta-feira, 12 de março de 2008

Os novos "pecados" do Papa... Será mesmo?


Bispo ligado ao papa Ratzinger imagina novos pecados "sociais", numa clara concessão ao esquerdismo católico. Há base bíblica para isso?

O papa Bento XVI divulgou uma lista de novos pecados. Quer dizer, mais ou menos isso. Na verdade, a lista de 13 pecados, com os sete antigos pecados capitais e cinco novos pecados "sociais", foi estruturada pela mídia após uma entrevista do bispo Dom Gianfranco Girotti, bispo regente do Tribunal da Penitenciária Apostólica. Meu sempre bem informado irmão Carlos André Moreira, da Zero Hora, corrige a falsa informação que circula pelo mundo todo. A entrevista de Giroti ao L'Osservattore Romano, órgão noticioso da Santa Sé, elenca uma série de pecados do mundo globalizado, sem intenção de estipular nova regra de fé. Dessa vez eu caí nessa.
Pois bem, ainda que as declarações de Girotti não tenham o pseo de uma Constituição Apostólica, trata-se das opiniões de um príncipe da Igreja, ocupando posto estreitamente vinculado à Magistratura Católica, e por isso mesmo, tal declaração está prenha de implicações teológicas, espirituais e, sobretudo, políticas, o que justifica uma análise. Mesmo que eu pertença ao universo protestante de uma forma geral, e pentecostal em âmbito específico, me interesso pelo assunto, nem que seja por motivos sociológicos. Os elementos de que disponho são os da Teologia, da Exegese Bíblica e da Análise Política.
Primeiramente, cumpre dizer que os conceitos de “pecado capital” e “pecado venial” pertencem exclusivamente ao universo católico, não somente romano, mas também grego, russo, armênio, siríaco e ortodoxo. Para o mundo protestante, este conceito é estranho, já que a Bíblia, única autoridade legislativa em questões de fé reconhecida pelo universo protestante, não estabelece distinção entre pecado grande e pecado pequeno. Roubar um clipe de papel de uma mesa de escritório, ou roubar um milhão de reais, constitui, de certa forma, o mesmo erro. E a tendência de catalogar, sistematizar pecados, tão própria do cristianismo ocidental, deixa escapar o fato de que o pecado é um estado de separação entre homem e Deus, é uma atitude, ou melhor dizendo, uma disposição mental para agir contra os princípios do Criador. Mas reconheço que, do ponto de vista educacional, a listinha de sete itens cumpriu, ao longo dos séculos, uma função pedagógica para a cristandade.
A lista romana que sempre incluiu Gula, Luxúria, Avareza, Ira, Soberba, Vaidade e Preguiça, é diferente e menor do que a lista de pecados que o apóstolo Paulo elencou na Carta aos Gálatas: “adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas (Gl 5:20-21)”. A última expressão de Paulo demonstra que se tratava de uma lista aberta, sujeita à inclusão de outros comportamentos que pudessem ser considerados, futuramente, ofensivos à vontade de Deus. Como acessar sites de conteúdo duvidoso na internet, por exemplo.
No entanto, a motivação com que alguns “pecados” foram elencados na tal entrevista não deixa de ser interessante. Vejamos, na nova lista, alguns dos pecados:

1) – Fazer modificação genética: O alvo desta nova sentença, sem dúvida, são as pesquisas com células-tronco embrionárias. Em que pese a defesa da vida que esta proposta apresenta, obstaculizar a ciência pode implicar no fim de avanços importantes, como a produção de alimentos sem agrotóxicos proporcionada pelos transgênicos. E de mais a mais, a própria Bíblia descreve a adoção dos gentios como Povo de Deus como uma modificação genética em uma planta, prática já conhecida na época. “E se alguns dos ramos (judeus descrentes) foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro,(gentio) foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira (Israel, o povo escolhido) Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. (Rm 11:17-18)”.
2) – Poluir o Meio Ambiente: De fato, não é um pecado novo, mas já havia sido descrito pelo próprio Deus, quando colocou Adão no Jardim do Éden como um guardião, um cultivador. No entanto, a Bíblia se afasta claramente da postura radical de vegetarianos e ongueiros de toda espécie, ao defender um uso racional de toda a natureza.
3) Causar Injustiça Social: Diversos profetas bíblicos sempre condenaram a exploração praticada contra o povo de sua época. Amós, de longe, é o mais contundente. No entanto, a inclusão deste novo item na lista de pecados romanos parece mais uma concessão aos defensores da Teologia da Libertação, com mais jeito de acomodação política entre correntes da própria igreja do que verdadeira preocupação pastoral com as almas.
4) Causas pobreza: Parece mais uma repetição do pecado anterior. Embora a intenção pareça inocente, tal condenação parte de uma visão simplória da realidade econômica, a partir da ótica distorcida do “Politicamente correto”. Será que esta citação abrange também a possibilidade de o “culpado” de sua pobreza, às vezes, ser o próprio pobre? Ou parte daquela premissa que entende somente o rico como culpado de todas as mazelas do mundo?
5) Tornar-se extremamente rico: Essa doeu. A cúpula do Vaticano não lê mais a Bíblia? O que eles teriam a dizer da forma como Abraão, Isaque, Jacó enriqueciam, acumulavam mais e mais gado, e sempre creditavam isso à bênção de Deus sobre suas vidas? Se levarmos a sério a nova bula papal, Deus abençoou os patriarcas bíblicos tornando-os pecadores. Já no Novo Testamento, o apóstolo Paulo recomendava a seu aluno Timóteo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; (I Tm 6:17)”. Sim, você leu isso mesmo: abundantemente. Se ser extremamente rico é pecado, como fica a cúpula do Vaticano? Esta coisa de demonizar o lucro e a prosperidade é uma concessão à consciência culpada da Europa, onde o cristianismo definha em favor de um vago “pluralismo” que tem, na verdade, um pensamento único, que trata causas de esquerda como senso comum, como verdades universais.
6) Usar drogas – Com essa eu concordo. E recomendo mais: mantenham-se distantes de entrevistas como esta, que produzem mais confusão do que solução.

6 comentários:

Cristiano - Xyber disse...

Bill gates não pode ser católico então, usar drogas eu tb concordo, todo mundo vai para de fumar, beber, etc...

Carlos André disse...

Lamento estragar tua bem escrita arenga, pastor, mas não é nada disso. Primeiro, não foi o "Papa Ratzinger" que proclamou p... nenhuma.

Na verdade, NINGUÈM proclamou nada. O que houve foi que um clérigo de alguma ascendência, Gianfranco Girotti, bispo regente do tribunal da Penitenciaria Apostólica, deu uma entrevista ao Osservatore Romano e ela foi amplificada por desinformação.
Só.

O cara não é sequer o cuiudo-mor no assunto, o penitenciário maior é o cardeal americano James Francis Stafford. na verdade tava errado já desde o início porque na entrevista original não se fala de pecado "mortal" e sim "social". O prelado respondia a uma pergunta sobre "novos pecados"

Tanto que a agência de notícias especializada na Santa Sé Zenit divulgou um comunicado da Sala de Comunicação da Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales que diz, textualmente:
"Não existe nenhum edito vaticano novo".
Logo, sugiro que tu corrija a abertura do texto, sob pena de parecer tão desinformado quanto qualquer obscuro jornalista do Sul do Brasil.

Euzer Lopes disse...

Engraçado... parece que a Igreja resolveu apagar seu passado.
Na idade média ela praticava ao menos 60% destes pecados.

Euzer Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mariana disse...

Eu achei simplesmente ridículo.

Parece as vezes que a Igreja está tentando voltar a ser como era na Idade Média, em vão, claro, porque hoje quem domina o mundo são outras pessoas.

Eu Mesmo disse...

O que faz separação entre Deus e nós?
Toda conduta que produza o mal.
Mas não se esqueçam; só Jesus Cristo é o Caminho que leva ao Senhor Deus.